Continuação do conto “Avó e neto contra vento e areia” de Teolinda Gersão, com a introdução de uma nova personagem, a autora do texto como narradora participante, e com alguns momentos de diálogo.
Estava uma manhã reluzente e decidi ir à praia desfrutar do mar salgado que se avizinhava da minha casa. Abri a porta e, no espaço de meio segundo, já estava eu com o pé enterrado na areia.
Quando fui atravessar as dunas, senti qualquer coisa no meu pé. Não era uma pedra. Não era uma concha. Eram uns óculos recheados de areia, que, eventualmente, alguém se tinha esquecido. Por momentos, pensei seguir em frente, mas depois a minha dignidade fez-me levá-los ao café do senhor Lourenço, no caso de alguém dar por eles.
No instante em que cheguei, vi uma senhora a correr na minha direção com um olho posto em mim e outro no objeto que trazia. Era a minha bisavó. A bisavó que não via há anos.
- Oh, querida! – disse ela, abraçando-me. – Aos anos! Já vi que encontraste os meus óculos…
- São seus?! Ainda bem que não os encontrei por acaso.
- Deixa-me só pô-los, para te ver melhor!
Encaixei os óculos nas suas mãos enrugadas e ela colocou-os nos olhos com uma preciosidade que nunca havia visto. Olhou para mim, como se quisesse dizer alguma coisa, mas só meio minuto depois é que se pronunciou.
- Continuas linda! – proferiu ela, com um sorriso no rosto.
Colégio Salesianos Funchal
Ana Margarida Freitas | 9.º E | n.º 2