O DN de hoje, lança um alarme “garrafal” a toda a largura da 1ª página e no seu topo, de “58 mil sem instrução”. Por baixo, refere que em “plena Madeira contemporânea … aumentou o número de residentes sem qualquer tipo de instrução”. On-line, o “grito” de alerta ainda é mais incisivo: “cresce o número de pessoas sem instrução”.
Ora, qualquer pessoa não totalmente desatenta, logo diria: não pode ser. A renovação demográfica em 10 anos, faz sair (normalmente por falecimento) uma geração de indivíduos pouco (ou nada) instruídos, por troca de uma geração de jovens, já com escolaridades elevadas.
Se há indicadores que não regridem, este é um deles. Assim, o DN só poderia estar enganado. Precipitou-se, avaliou mal os números disponíveis e – não queremos acreditar que de má fé – tratou logo de colocar a notícia com o maior relevo possível, com vista a evidentes (deficientes) impactos políticos.
Diz o DN que a RAM passou de 42.700 não instruídos em 2011 para 58.000 em 2011.
Ora, clarifiquemos:
Em primeiro lugar, não há que criar alarmismos. Nestes números incluem-se as crianças acabadas de nascer, aquelas que estão em idade pré pré-primária (em creches ou não), as que frequentam a educação pré-escolar e os que frequentam (e não terminaram ainda) o 1º Ciclo. Estes últimos, por não terem ainda concluído o 1º Ciclo não têm ainda qualquer grau de instrução. Só estas crianças (até aos 10 anos) justificam cerca de 33 mil dos indivíduos “não instruídos”.
Os restantes são, na sua grande maioria, indivíduos nascidos antes de 1950, já na reforma. Um grupo em que os níveis de instrução são, reconhecida e naturalmente baixos. Em cuja formação básica, e no tempo certo, a Autonomia e a Madeira contemporânea não tiveram qualquer influência.
Onde se enganou o DN?
Nos números de 2001, o DN considerou os indivíduos “sem nível de ensino” (37.300) e somou as crianças em frequência no Pré-Escolar (5.400). Esquecendo-se dos 16.000 a frequentar o 1º Ciclo e os 18.500 que o frequentaram sem o completar. Todos estes, em 2001 não tinham qualquer nível de ensino. Se os tivesse incluído a todos, como devido, atingiria os 77.200 reais…
Nos números de 2011, considerou-os todos. Os 58.300. E são estes que comparam com aqueles. A melhoria de 19.000 (e não uma regressão de 15.000) é a avaliação real para o que o DN pretendia. Um erro significativo, de 34 mil indivíduos: menos 19 mil não instruídos e não mais 15 mil como indicou na sua notícia “alarmante”…
O título para o DN poderia ser o mesmo, mas o rodapé indicaria que em 10 anos, já em plena Madeira contemporânea, o número de residentes sem qualquer instrução reduziu de 77.200 para 58.000 segundo o census deste ano.
Fica aqui a nota. Veremos como se sai o DN, na correcção devida (?) da sua notícia errónea. Dada com tanto destaque.
Mas já estamos mesmo a ver. Segue-se a fase dos inquéritos, das bolinhas vermelhas, das colunas nos nãos, das medalhas de lata, dos comentários jocosos, da recolha de opiniões e dos blogs com todos os tipos de comentários negativos baseados nesta notícia…