Revista Diversidades n.º 24 Periodicidade trimestral Ano 7 Abril, maio e Junho de 2009 Título: Ver mais além… Índice Editorial O Universo da Arte na Educação Especial Inclusão pela Arte: Marcas de um Processo Derrubar as Barreiras do Silêncio através da Música A Tonalidade da Música…Paleta de Emoções Canto, Melodia, Vida! Dança: Ferramenta de Inclusão Social Arte-Terapia na Educação Especial Cinema Inclusivo: Soluções Diferenciadas, Comunicação Abrangente Vivências e Experiências: “A Outra Margem” Na Diferença mora a Genialidade “Arte: Reflexos de uma Vida” Espaço opinião Espaço Psi Legislação Livros Espaço TIC Notícias Ficha Técnica Directora: Maria José de Jesus Camacho Redacção: Serviços da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação e Colaboradores Externos Revisão: Núcleo de Informação, Multimédia e Informática Morada: Rua D. João n.º 57 9054-510 Funchal Telefone: 291 705 860 Fax: 291 705 870 E-mail: revistadiversidades@madeira-edu.pt Grafismo e Paginação: Núcleo de Informação, Multimédia e Informática ISSN 1646-1819 Impressão: O Liberal, Empresa de Artes Gráficas, Lda. Tiragem: 1000 exemplares Distribuição: Gratuita Fotos: Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação / Estúdio Quattro Editorial Maria José Camacho Directora Regional de Educação Especial e Reabilitação A arte pincela, descreve e sulca o caminho para uma educação mais rica, reflexiva, coerente e profunda. São inúmeras as facetas da arte no contexto da Educação Especial e Reabilitação e infinitas as Expressões em que a Educação pela Arte se patenteia. Profundas Expressões, milhares de áreas, milhões de artes… Pintura, desenho, escultura, dança, cinema, teatro, fotografia, música, escrita, leitura… Cada um de nós olha, cheira, toca, ouve, move-se, experimenta, sente, pensa, contempla, age… Assim é a arte em toda a sua envolvência! Pensar a arte e o seu contributo, no desenvolvimento harmonioso de cada ser humano, é ser capaz de se emocionar, criar, imaginar, fantasiar, aproximar. Numa relação dialéctica de significados e significantes, imersa em simbolismos de profundo valor intrínseco à construção da personalidade, a arte congrega o esforço do pensamento, da intuição, da beleza e da sensibilidade. Para a população com necessidades especiais, a arte reitera uma acção educativa e uma intervenção terapêutica, orientada para a criação e consubstanciada numa praxis transdisciplinar e holística que entusiasma, promove, une, habilita e reabilita. Saibamos acolher a arte e o belo! E, no mais criativo e original raio de sol, no mais pequeno brilho das estrelas, na madrugada acolhedora e no misterioso anoitecer, encontremos respostas diferenciadas para todos os que vivem nas personagens de cada um. Folheemos, então, páginas coloridas pelos tons da imaginação, movidas pelo som da criatividade e impulsionadas pelas três pancadas de Molière que nos convocam a descobrir as Expressões, neste número da Diversidades. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido Fernando Pessoa (poema IX do Guardador de Rebanhos) Artigos O Universo da Arte na Educação Especial David Atouguia - Centro de Actividades Ocupacionais de Câmara de Lobos Vera Santos - Centro de Actividades Ocupacionais de Machico A Arte na Educação Especial O universo da arte é profícuo em exemplos de como este se torna proveitoso e benéfico tanto ao nível da criação, como no patamar da fruição. A arte desenvolve a mente e cria novos modos, respostas, situações e meios para promover competências sociais e afectivas, de forma a enriquecer a personalidade e experiências pessoais. Logo, só o Homem beneficia dessa relação simbiótica, pois tende a enfatizar as vivências de carácter estético com o intuito de valorizar os momentos marcantes da sua vida. É nesta perspectiva que a arte na Educação Especial deve ser encarada, pois os jovens com necessidades especiais (NE) conseguem assimilar as experiências pessoais de uma forma mais natural, se à mesma aliarmos uma intervenção de carácter estético como participantes activos (autores e criadores) ou passivos (fruidores e espectadores). Aqui o que importa é a comunicação, sendo que nesta, a mensagem entre o emissor e o receptor é o signo, ou seja, o simbolismo que se encontra no objecto artístico. Independentemente das nossas capacidades individuais, todos transportamos uma simbologia intrínseca à nossa personalidade, que encontra uma relação cinestésica com tudo o que vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e tocamos. Estes jovens, por sua vez, estão sujeitos às mesmas influências, alterando a leitura que fazem desses momentos em que a arte invade o seu mundo. É esta a perspectiva que deve ser aprofundada, pois quanto maior o estímulo, melhor será a resposta e, consequentemente, um desenvolvimento pessoal mais rico. O que realmente interessa é verificar a interacção do sujeito com determinada situação e a resposta à mesma, de forma a quantificar o grau de satisfação produzido. Só seguindo esta linha orientadora é que poderemos delinear as futuras intervenções individualizadas, tendo em conta a satisfação como parte do produto obtido, aliando assim o carácter pedagógico à relação afectiva. A deficiência não é impeditiva dos jovens se afirmarem como membros intervenientes no processo de criação. Este processo deve ser adaptado às suas capacidades e respeitar a diferença como parte integrante. Trata-se de um trabalho moroso, cujos resultados nem sempre correspondem às expectativas criadas, o que alimenta a frustração, inimiga de um correcto desempenho da intervenção pedagógica. O jovem envolto neste tipo de ocorrência em nada sai beneficiado, comprometendo-se, assim, o desenvolvimento da intervenção pretendida. Os serviços de educação especial e reabilitação devem, então, facultar uma maior panóplia de campos de intervenção artística que não se restrinjam à capacidade individual dos jovens, nem ao que devem ou não apreender dos mesmos. A experiência por si só cria respostas que são sempre benéficas na avaliação da personalidade, capacidade de apreensão e pensamento abstracto do jovem (Heller, 2007). A arte torna-se fundamental para a obtenção de respostas que por outra via nunca seriam possíveis de receber nem de observar. É aconselhável que os serviços de educação especial e reabilitação sigam uma lógica de abertura dos conceitos e, principalmente, que proporcionem à população apoiada uma expansão nas suas experiências. A sensação deve ser privilegiada e a informação veiculada, de modo a enriquecer essa mesma experiência. A educação por via da prática fornece ao jovem automatismos que, quando correctamente implementados, expandem os seus horizontes, correspondendo assim positivamente à verdadeira ascensão do termo educar. A Terapia na Arte A arte, enquanto produto por si só, não revela a totalidade da sua envolvência no indivíduo. A pintura, o desenho, a escultura, a dança, o cinema, entre outros, não vivem sem o público. Todas as formas de arte residem na resposta que o público dá para que esta seja ou não merecedora do título de obra. Mas, outros são os campos em que a intervenção artística não se preocupa com a resposta do público, mas sim com o desenvolvimento pessoal de quem produz objectos de carácter estético. Estes procuram contribuir para o desenvolvimento intrínseco do indivíduo, por via de um trabalho organizado e metódico. A valorização do interveniente face a este estímulo é feita através de uma reabilitação estética. O trabalho desenvolvido é, por si só, mais do que sufi ciente para este encontrar nas suas capacidades individuais uma noção de auto-recompensa. É nestes princípios que assenta a terapia na arte. Numa primeira instância, desenvolve-se num conceito de apreensão de noções básicas sobre as técnicas expressivas. Com o decorrer da exploração incorrem representações simbólicas dos jovens de forma a exteriorizar sentimentos que, por outra forma, não o iriam fazer. A exploração de tais técnicas revela-se fundamental para a tomada de decisões sobre os percursos expressivos individuais, na qual a observação é a ferramenta privilegiada de quem supervisiona os trabalhos. O olhar atento pode detectar as lacunas latentes, presentes através de símbolos, cores e formas de desenhar. Estas indicam o estado do indivíduo, revelando o seu estádio de desenvolvimento, pois a expressão por via do desenho é das mais difíceis de contornar. O desenhar é, então, o mais honesto dos actos. A arte não é a cura, mas sim uma via de exteriorização de muitas das manias, gostos, problemáticas, distúrbios, entre outros. A título de exemplo, muitos foram os artistas que apesar das suas personalidades instáveis, entre eles Salvador Dali, Van Gogh, Sergei Diaghilev, Guilherme de Santa-Rita, encontraram na arte um refúgio e uma forma de colmatar os seus devaneios e acessos de loucura. A arte constituía o porto de abrigo onde estes artistas se exprimiam sem público como forma de intervenção terapêutica, tornando-se, com o passar do tempo, marcos na História da Arte. O reconhecimento é mero fruto do acaso, mas é possível verificar a premissa de que a arte só o é de pois do público se pronunciar sobre o objecto, que até então é fruto da expressão. A educação tende a subvalorizar as capacidades terapêuticas da arte, enfatizando apenas as competências programáticas explanadas nos currículos nacionais. Contudo, a crença de que esta particularidade da expressão artística tende a ser cada vez mais valo rizada é forte, mediante uma individualização crescente no papel pedagógico exigida por esses currículos. Atendendo a este facto, o agente educativo terá que se esbater com as particularidades individuais e a terapêutica da sua intervenção. Só quando tais questões forem solucionadas é que a educação será verdadeiramente focalizada no que realmente interessa. No que concerne à educação especial e reabilitação, a arte ganha particular relevância com a intervenção dos diversos terapeutas, num contexto multidisciplinar. O que a arte fornece é o aspecto lúdico necessário para o incorrer de determinadas terapêuticas ao nível da motricidade, oralidade, visão, tacto e audição, de uma forma menos automatizada, mais descontraí da e natural, onde os objectivos são os mesmos, mas os processos são radicalmente diferentes. Como tal, a arte torna-se um instrumento essencial para o investimento em novos e mais variados fins terapêuticos. Em suma, para cada percurso poderemos ou não alterar o modo de actuação de forma a facilitar a finalidade pretendida. Na terapêutica, a finalidade é a reabilitação do indivíduo e, logo, o fulcro da questão. A arte será um desvio para a obtenção deste mesmo fim. O sentimento empregue na obtenção de objectos de cariz artístico ajuda o criador a alienar-se do que sente, exteriorizando fixações e sobrepondo-se às grilhetas e condicionantes da sua existência. Bibliografia: Cirlot, J. (2000). Dicionário de Símbolos. Lisboa: D. Quixote. Fuller, P. (1983). Arte e psicanálise. Lisboa: D. Quixote. Heller, E. (2007). Psicologia das Cores. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL. Inclusão pela Arte Marcas de um Processo Ester Vieira - Núcleo de Inclusão pela Arte O Projecto Oficina Versus nasceu em 1989 por sugestão do então Director Regional de Educação Especial – Professor Eleutério de Aguiar – como espaço promotor de arte para as pessoas com deficiência – permitindo, desde então, a centenas de crianças, jovens e adultos com necessidades especiais (NE), o acesso a diversas práticas artísticas. Desde sempre promotor de integração em actividades e eventos culturais regionais e nacionais, este projecto deu substância às diversas designações que tomou, institucionalmente, na Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER) – 1992: SAC (Serviço de Arte e Criatividade), 2005: DAC (Divisão de Arte e Criatividade) e em 2008: NIA (Núcleo de Inclusão pela Arte). Foi percursor do conceito de Inclusão pela Arte na Região Autónoma da Madeira (RAM), num percurso marcante, onde figuram peque nas e grandes conquistas, contributo “histórico” nesta matéria. Este projecto contou com a colaboração de dezenas de profissionais no âmbito do ensino e das artes, em avanços e recuos sucessivos, onde a inovação se debateu com o preconceito e a dúvida deu lugar à afirmação e à qualidade, manifestas pelo desempenho dos seus artistas, com e sem NE. Em 20 anos de práticas, a arte inclusiva da DREER tornou-se paradigmática e reconhecida publicamente pela qualidade e diversidade das suas apresentações. Centenas de crianças, jovens e adultos, com acesso reduzido ou nulo ao campo artístico, puderam testar e desenvolver competências criativas e protagonizar papéis diversos em espectáculos de dança, teatro, música e artes plásticas, num modelo também pioneiro a nível nacional. Mas, sabemos que nada disso seria realizável se, de fundo, nos seus intervenientes, não perdurasse uma atitude de querer vencer diferenças e barreiras, minimizando adversidades, para poderem comunicar e incluir-se no mundo da arte. Das Ferramentas ao Acto Criativo O processo vivido ao longo de 20 anos permite-nos observar diferentes fases de crescimento, em que as linguagens artísticas foram elencando dois sub-processos: um processo comum, em que se utilizam as ferramentas e técnicas para o auto-conhecimento, a interacção com o outro e a afirmação pessoal e social e um outro processo paralelo, em que, fruto do despis te de talentos, da capacidade individual de crescimento e da exposição pública dos candidatos, estes são levados à prática artística propriamente dita. Missão e Linhas Condutoras Criar e afirmar oportunidades artísticas e mudar atitudes sociais pela arte é a missão do NIA. Na prossecução dos seus objectivos, este núcleo almeja alcançar os seguintes resultados: formar e reabilitar pessoas com NE pela arte; promover a criatividade artística, a qualidade e a inovação na prática da Arte Inclusiva; envolver cidadãos, profissionais das artes e entidades públicas e privadas, na prática deste modelo; desenvolver e incentivar experiências artísticas acessíveis a todos; sensibilizar a opinião pública e desencadear a mudança de atitudes; incentivar a participação e o intercâmbio artísticos; criar oportunidades de inclusão artística e social; detectar talentos/ produtos artísticos e promover, criteriosamente, o seu encaminhamento. O Modelo Inclusivo nas Artes Da Integração à Inclusão pela Arte: o Conceito de Arte Inclusiva O conceito de inclusão conota-se com uma sociedade que desejamos ao alcance de todos, aberta e activa no respeito pelas diferenças, sejam elas de sexo, crença, cultura, língua ou capacidades. “É um modo de vida, um modo de viver juntos fundado na convicção de que cada indivíduo é estimado e pertence a um grupo” (Mil & Vila, 1995). “É o processo bilateral pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir nos seus sistemas sociais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir os seus papéis na sociedade. (Sassaki, 1997). A filosofia da inclusão esteve desde sempre subjacente ao Projecto Oficina Versus, primeiro sob a forma de experiência de integração em eventos e acções destinados ao cidadão não deficiente e depois, a partir de Outubro de 2001, com a realização de actividades artísticas com grupos formados por pessoas com e sem deficiência. Esta nova prática tomou forma com o teatro e com a dança inclusiva, estendendo-se depois a outras modalidades artísticas. A população que integra a arte inclusiva na DREER é diversa na idade, nos perfis individuais e nos interesses, orientada, por sua vez, pelos objectivos de convívio, novidade, necessidade de atenção, fuga à sua condição, afirmação pessoal, oportunidade de encaminhamento, formação e acesso à arte/cultura. São pessoas oriundas de diversos locais ou situações, interessadas na prática artística e/ou na experiência artística inclusiva. E é dentro deste universo que são seleccionados e geridos os candidatos às artes de palco, na oferta de espectáculos inclusivos. A Formação de Artistas A partir do momento em que as pessoas com NE integram um elenco no qual assenta a produção de espectáculos terão que percorrer um longo caminho de formação técnica e de atitudes, de postura e de desempenho no palco. As artes de palco, sejam no foro do teatro, da música, da dança ou outras, subentendem um rigor que se conotará sempre com o factor da qualidade de apresentação e que constitui um dos critérios decisivos de quem oferece produtos de arte/cultura, num mercado aberto à concorrência e onde o público é quem escolhe aquilo que quer “ver”. É esse factor que determinará a mudança de atitudes do público face aos artistas com NE, num olhar de quem aceita a diferença e admira o desempenho criativo. Estes valores exigem uma formação técnica contínua, ajustada às necessidades e potencialidades dos candidatos, a que se tenta responder através de sessões de trabalho e da apresentação de espectáculos, bem como através de acções com profissionais convidados ou com formandos em estágios. A Formação de Públicos Ao longo do processo, os nossos grupos foram marcando presença junto do público, habituando-o a uma oferta específica. A participação integrada nos diferentes eventos socioculturais foi constituindo uma crescente conquista de públicos, em diferentes locais da RAM, a nível nacional e internacional. São disso exemplo as participações nos seguintes eventos: Festival Regional de Teatro Escolar, Encontro Nacional de Teatro na Escola, Encontro Regional de Teatro Amador, Festival de Teatro Infantil da Madeira, Concurso Juventude e Defesa Nacional, Mostra de Arte, Diversidade e Inclusão Sociocultural (Rio de Janeiro), Festival FESTEIXO (Viana do Castelo), Festival CRIARTE (Ponte de Lima), Município da Cultura da Ponta do Sol e de Câmara de Lobos (RAM), algumas edições do Natal dos Hospitais (RAM), o programa “Portugal ao vivo” – Instituto da Juventude (Porto), Abertura Oficial das Jornadas Pediátricas (RAM), 1.º Congresso de Visão Holística (RAM), Festival de Arte e Recreação (Lisboa), 1.º Congresso e Festival de Arte sem Barreiras (Brasil), Festival Internacional de Teatro Especial (Lisboa), 1.º Congresso de Arte sem Barreiras (Belo Horizonte - Brasil), Festival de Teatro Especial (Abrantes), Festival d’Orphée (França), Chréam International Performing Arts Festival (Bélgica). Teatro e Dança: Pioneiros do Modelo Inclusivo Expressão dramática, iniciação ao teatro e teatro inclusivo são patamares de um mesmo percurso que poderá culminar no palco. Por isso, dão forma a grupos distintos, em actividade diária no nosso serviço, conforme as capacidades dos indivíduos. Se a expressão dramática assume um carácter mais lúdico e menos formal, o mesmo não acontece no teatro. A prática do teatro inicia-se a partir dos 14 anos, uma vez atingida a capacidade de entender e lidar com personagens, emoções e enredos. Pode-se dizer que o teatro é acessível a qualquer um que o queira praticar, salvaguardando-se a questão de que para a apresentação pública de espectáculos é indispensável algum talento, uma base de conhecimentos técnicos, treino e aperfeiçoamento contínuos. O modelo artístico inclusivo iniciou-se com o teatro, tendo ocorrido a primeira experiência, em Novembro de 2001, na peça de Teatro Infantil “A Canção do Realejo”, em parceria com o Teatro Experimental do Funchal e reafirmada no espectáculo LUGARES, de Herberto Helder, exibido no 3.º Festival de Arte, Criatividade e Recreação (FACR), em Março de 2002. A constituição de um elenco inclusivo e o desempenho conjunto tornaram-se ainda mais consistentes com a chegada de Duarte Rodrigues, para a criação e produção da peça “O Conto da Ilha Desconhecida”, de José Saramago. Até hoje e ainda com o contributo deste colaborador (formador, encenador, cenógrafo, figurinista e aderecista), foram feitas cerca de 20 peças no formato de teatro inclusivo, com textos de mais de 17 autores portugueses e estrangeiros, bem conhecidos na escrita para teatro. O Projecto Dançando com a Diferença, iniciado em Setembro de 2001, a convite da DAC/DREER, foi antecedido por dois workshops (2000 e 2001) com o intuito de formar profissionais e os tornar aptos a mobilizarem a prática da dança inclusiva. Henrique Amoedo assumiu a responsabilidade por este projecto, que se manteve activo na DREER até 2007, transitando agora para a tutela da Associação dos Amigos da Arte Inclusiva - Dançando com a Diferença. Tanto a dança, como o teatro inclusivo trouxeram um formato inovador às práticas da arte para as pessoas com NE, inaugurando-se assim o conceito de inclusão pela arte na DREER. Foi no contexto prático desse novo conceito que surgiram novas formas de olhar o corpo e a sua expressão, bem como o envolvimento de cidadãos com e sem deficiência, cruzando-se técnicas e competências diversas, até aí não exploradas. Constituição de Elencos e Novas Criações. Com o avanço do modelo inclusivo, um outro nível de exigência foi tomando forma, apurando-se critérios e procedimentos que visavam a qualidade da intervenção, a inserção dos produtos no meio artístico, a mudança da imagem das pessoas com NE, criando-se artistas iguais e oportunidades iguais. Para que esta afirmação social sucedesse, muito contribuiu o envolvimento de profissionais de diferentes áreas (coreógrafos, encenadores, músicos, artistas plásticos), de diversas instituições e o estabelecimento de parcerias e apoios (Lei do Mecenato). Assim, passou a ser corrente a prática de um conjunto de acções implícitas designado de ciclo funcional do processo criativo, nomeadamente, a constituição e reconstituição periódica de elenco e de repertório, a reconstituição de peças já apresentadas, as montagens com profissionais do meio, as digressões locais e no exterior, o suporte de produção (Mecenato Cultural), o acesso aos locais de espectáculo e o apoio técnico correspondente às necessidades identificadas para cada situação. Para a constituição de elencos, recorre-se à abertura de inscrições e/ou audições, adoptando critérios de selecção com base em características naturais, necessidades pessoais, formação técnica adquirida, sentido de responsabilidade e de compromisso e estágio temporário no grupo. Sensibilização e Apoio a Projectos Em paralelo com as actividades diárias do NIA e com a montagem e apresentação de espectáculos e eventos, existe também a preocupação de apoiar projectos de cariz individual e/ou institucional, dentro e fora da DREER. São disso exemplo os projectos temporários “Em SI Artístico” (artes plásticas, 2009) e “Eu Crio o Meu Mundo” (musical-dramático, 2009) e o projecto de carácter contínuo Duo Carla e Marcelo, aos quais é fornecida orientação, apoio técnico e logístico, integrando o programa anual de apresentações públicas deste serviço. A sensibilização e formação nas escolas, cursos técnico-profissionais, seminários e encontros tem sido outra das acções continuadas deste serviço, onde o objectivo é apresentar o modelo de inclusão pela arte da DREER, o seu processo e resultados. Para um Modelo Inclusivo de Sucesso Um dos aspectos mais importantes no sucesso do modelo inclusivo prende-se com a constituição de uma equipa permanente, onde o facto desta estar sujeita a flutuações traz fragilidades e perdas, ao nível da experiência vivida, do sentido crítico e reflexivo e do seu consequente poder transformador. O mesmo não se poderá aplicar integralmente aos colaboradores pontuais, cuja participação se limita a um projecto, repetindo-se ou não conforme o interesse das partes, mas que cumpre sempre o objectivo de qualificar, referenciar e permutar experiências criativas e que acabam sendo sempre uma mais-valia na visibilidade e na imagem de mudança que pretendemos. Não podemos descurar um terceiro grupo de colaboradores, sem dúvida de uma primordial importância na realização prática destes projectos, os parceiros culturais, institucionais ou privados e o empresariado, em formato de apoio ou patrocínio, sem os quais não seria viável a concretização das propostas apresentadas a público. Os estágios, integrantes de diversos profissionais na área técnica e artística, em coordenação com o Instituto de Emprego da Madeira e com o Conserva tório - Escola Profissional das Artes da Madeira, tem sido, igualmente, um veículo duplo de sensibilização e apoio, quer para os profissionais que nos procuram, quer para o nosso próprio processo de trabalho, funcionando como mais-valias técnicas para a qualificação da nossa imagem e dos nossos produtos. Produção de Eventos - Uma Imagem de Marca A criação de eventos próprios foi de suma importância na afirmação de diversos campos de actividade - desporto, cultura, arte, formação e sensibilização, ao público formal e informal - criando na DREER uma marca própria, sistematizadora de conceitos e conquistas, que em muito contribuiu para uma imagem renovada e inovadora das pessoas com NE e das suas realidades. A produção destes eventos, com carácter continuado, iniciou-se, em 1992, com os Jogos Especiais integrando no seu programa, desde logo, as actividades criativas do SAC, desta Direcção Regional. Em 1996, surgiu o primeiro FACR com periodicidade bianual que viria a tornar-se o 2.º evento de carácter permanente na DREER e que, nas 3 edições que se seguiram (1997, 1999 e 2002), trouxe até si centenas de candidatos da Região, de Portugal Continental e de outros lugares do Mundo. O I e II Encontro Regional de Educação Especial, realizados em 2003 e 2005, respectivamente, foram o 3.º grande evento produzido pela DREER, onde mais uma vez a arte inclusiva marcou presença com mo mentos artísticos qualificados. Em 2006, e em alternativa ao 5.º FACR, surgiu um novo formato de apresentação multicultural com música, teatro, dança e artes plásticas - a 1.ª Mostra de Arte e Inclusão Sociocultural, envolvendo convidados regionais, nacionais e do Brasil. Conclusão À arte em geral - música, teatro, cinema, dança, pintura, escultura, fotografia, entre outras - cabe um importante papel, uma vez que utiliza linguagens de fácil compreensão e aceitação, individuais e individualizantes, facilitadoras da afirmação e inclusão pessoal e social. Daí o papel da arte como elevado agente de transformação na mudança de atitudes sociais, face às pessoas com NE. Com o tempo, e no processo de crescimento a que todos aspiramos, acreditamos que o conceito “Inclusão pela Arte” tenderá a desaparecer da mesma forma que apareceu, tendo em conta tratar -se de um termo temporário, necessário para denunciar e suprimir o preconceito social e a discriminação que lhe deram origem. Bibliografia: Mil & Vila. (1995). In Jorge Santos (2009). A Escola Inclusiva. [on-line]. Dispo nível no URL: http://www.malhatlantica.pt/ecae-cm/EInclusiva.htm Acedido a 8 de Junho de 2009. Sassaki, R. (1997). Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA. Derrubar as Barreiras do Silêncio através da Música! Luzia Almeida - Serviço Técnico de Educação para a Deficiência Motora e Visual Maria José Camacho - Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação Ao longo da História da Humanidade, a música apresenta-se como domínio artístico de eleição e linguagem universal, enquadrada em diversificadas for mas e manifestações, expressa e protagonizada por diferentes grupos e classes sociais em múltiplos contextos, circunstâncias e acontecimentos da vida pessoal, familiar, social e política dos povos. Não é fácil eleger uma definição objectiva e ideal para a palavra música. Um dos dicionários de Língua Portuguesa da actualidade define-a como “a arte de combinar harmoniosamente vários sons… conjunto de sons agradáveis; harmonia; cadência; ritmo.” Para Gautier, Heine e Stael, (citados por Verdeau-Paillés, 1981) “a música é o mais querido de todos os ruídos; é uma arte que vai para além de todas as artes; é a arquitectura dos sons; tem o poder de agir, simultaneamente, sobre o espírito e sobre os sentidos; chega mais longe do que as palavras… não exprime a paixão, nem o amor, nem a nostalgia: ela é a paixão, o amor, a nostalgia.” Também Menuhin (Idem) proclama que “a música é-nos oferecida com a vida.” Na nossa era, contemporânea de um mundo exponencialmente ruidoso, a música continua a assumir-se como fonte potenciadora de comunicação e veículo mediador de criatividade e de bem-estar, no poderoso e profícuo diálogo que estabelece entre compositor, mensagem, intérprete e ouvintes. Da Música à Musicoterapia Na procura de respostas eficazes ao nível das necessidades especiais e da saúde, a musicoterapia tem vindo a afirmar-se, incisivamente, como método psicoterapêutico. A este propósito Yehudi Menuhin (distinto violonista e maestro) refere, no prefácio à obra de Jacqueline Verdeau-Paillés (1981): Music is Therapy and has always been so: in the church, in the village hall, for the hearth and the home, for the soldier and for the lover. But only our own very methodical and ailing world have we rediscovered the value, the techniques, the specific means of applying music to the rehabilitation of those suffering from any of the crippling afflictions which prevent them from lea ding a normal, active life. De facto, a literatura refere que os benefícios da música, enquanto terapia, remontam aos primórdios da Humanidade. Um dos clássicos da Literatura - a Bíblia - num texto do Antigo Testamento que os especialistas referem ter 3000 anos (1 Samuel, 16,16;23), apresenta-nos um relato atribuído ao rei Saul, personagem atormentada por “algo” que lhe provocava graves perturbações comportamentais e a quem a música é apresentada como “remédio”: “se tu, nosso rei nos deres ordens, os teus servos procurarão um homem que saiba tocar harpa, para que quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque a fi m de te acalmar (…) e sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.” Para a World Federation of Music Therapy (WFMT), organização internacional que integra diferentes associações de musicoterapia, na perspectiva de intercâmbios profissionais, estudos e colaboração neste domínio, a musicoterapia é um método aplicado por técnicos qualificados. Através dele, estabelecem-se propostas de intervenção, de modo a facilitar e pro mover a comunicação, a interacção, a aprendizagem, a expressão e a estruturação de processos psíquicos, no sentido da promoção de competências, de bem-estar e de qualidade de vida. Também em Portugal foi fundada, em Janeiro de 1996, a Associação Portuguesa de Musicoterapia (APMT) com a missão de reunir os profissionais de disciplinas afins e promover o desenvolvimento da musicoterapia no nosso País. Curiosamente (motivo de orgulho para a SREC/DREER) a APMT surgiu, tal como referido no site desta associação, “do esforço de um grupo de profissionais e sócios da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) e do interesse dos participantes no primeiro Curso de Formação em Musicoterapia existente em Portugal, organizado pela Secretaria Regional de Educação da Madeira, através da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação.” No campo das necessidades especiais, a musicoterapia, através de técnicas de escuta musical activa, da reprodução e exploração sonoras e do apelo à espontaneidade e criatividade interpretativas, tem-se constituído num magnífico meio de reabilitação e de bem-estar. Verdeau-Paillés (1981) afirma que, independentemente da sua cultura, as pessoas com necessidades especiais que escutam uma música poderão encontrar nela tranquilidade, socorro, estímulo ou simplesmente um meio privilegiado de comunicação com os outros. Mas porque cada um percepciona as obras musicais à sua maneira, elas não produzirão o mesmo efeito em todos. Neste postulado reside a atenção que deve ser prestada ao perfil psicológico de cada um para que o alcance terapêutico se constitua em êxito. A Musicoterapia no Serviço Técnico de Educação para a Deficiência Motora e Visual (STEDMV) A música abarca factores estimulantes, persuasivos e também compulsivos, ao actuar como uma ordem fisicamente forte, desencadeando um resultado vigorante sobre o ouvinte e o executante. Neste campo, a musicoterapia quebra os estereótipos e ajuda a superar alguma inércia e dificuldade de acção junto da população com necessidades educativas especiais. O projecto desenvolvido no STEDMV permite que, a pouco e pouco, crianças e jovens descubram possibilidades/capacidades que se encontravam eclipsadas. O sorriso, os gestos, o olhar, os sons não são mais do que trilhos através dos quais analisamos tudo aquilo que compõe o nosso mundo interior e que pulsa no sentido de se revelar. Por isso, cada descoberta, por exígua que seja constitui-se em conquista e motivo de grande exultação tanto pela criança/jovem, como por aqueles que com ela interagem. A música, como linguagem sonora verbal e não verbal, utiliza os códigos linguísticos do ritmo e do som, estruturados ou não, harmónicos ou dissonantes e deve ser utilizada no respeito absoluto das singularidades de cada um. Como tal, trabalham-se os seguintes elementos: a exploração do instrumentário Orff; a improvisação sobre fundo musical; a percussão corporal; a improvisação de sons corporais e instrumentais; o diálogo rítmico com tambores; a estimulação sensorial e a sonorização de situações concretas. A improvisação e o diálogo sonoro são utilizados com recurso a instrumentos musicais e à movimentação corporal. São actividades que têm uma grande aceitação junto das crianças e jovens, pois não é exigido nada que não possam realizar. Deixados completamente à vontade, puderam experimentar e criar sem inibições. No entanto, foi necessário encontrar o instrumento que mais se adequava ao tipo e grau de capacidade e ajustá-lo à parte do corpo que a criança controlava com mais eficácia, permitindo, deste modo, uma maior participação da sua parte. Ser capaz de se expressar utilizando a linguagem artística é uma forma de conhecimento que possibilita o reconhecimento dos seus pares, assim como da família e de outros elementos que foram convidados para actividades festivas. Neste sentido, a musicoterapia assegurou, além da produção artística por parte do aluno, a formação de público sensível e aberto ao conhecimento da diversidade de realizações por parte destes alunos. Considero, portanto, que muitos limites foram superados por intermédio das múltiplas possibilidades que esta forma de arte e terapia presenteia. Neste âmbito, a arte, associada à terapia, é um campo rico de experimentações, aberto às novas composições e elaborações, propondo olhares diferenciados sobre a realidade. Olhares que eliminam barreiras arquitectónicas, comportamentais (segregação, estigma e preconceito) e de comunicação, por não partirem de modelos estatuídos. Por esta razão, a musicoterapia representa, por excelência, um vector de inclusão social, uma vez que os alunos são encarados como elementos activos. E, em jeito de conclusão, fi ca a certeza, segundo Marcel Reich-Ranicki, que acompanhou o brilhante músico e maestro Yehudi Menuhin até à morte: “com a Chaconne de Bach ou o concerto para violino de Beethoven podemos tornar as pessoas, se não boas, pelo menos melhores.” Referências Bibliográficas: 2 Dedos de Conversa. [on-line]. Disponível no URL: http://conversa2.blogspot. com/2009/04/yehudi-menuhin.html Acedido a 13 de Junho de 2009. Verdeau-Paillés, J. (1981). Le Bilan Psycho-musical et la personnalité. Paris: Éditions J-M. Fuzeau S.A. A Tonalidade da Música... Paleta de Emoções Magdalena Miranda - Serviço Técnico de Actividades Ocupacionais A música, com maior ou menor frequência, é uma presença constante na vida do ser humano. Através da música evocam-se sentimentos e emoções, de acordo com a capacidade de percepção de cada um. Exploramos o nosso auto-conhecimento, o relacionamento com o próprio “eu” e com os outros, a auto-estima e a auto-confiança… enfim… a relação entre nós e o meio que nos rodeia. A música é uma linguagem e, como tal, através dela podemos exprimir, mais facilmente, tudo o que nos vai na alma e sentir mais profunda mente e com melhor percepção, o que os “outros” nos transmitem. A música torna tudo muito mais simples, mais compreensível, mais atingível… muito mais belo. É neste sentido que procuro sempre transportar a importância da música a nível educacional e atrevo-me a dizer, apesar da pouca experiência que ainda possuo, que a música é a base de toda a aprendizagem do ser humano. Através dela podemos adquirir múltiplos conheci mentos e, mais do que isso, é com ela que desperta mos para “um mundo prazeroso que facilita a libertação da nossa mente e do nosso corpo para a aprendizagem em geral e para a socialização” (Ongaro; Silva & Ricci, s/d). Portanto, a música acarreta muito mais do que uma mera associação de sons, palavras e movimentos. Acredito plenamente que constitui um excelente instrumento que faz toda a diferença em qualquer estabelecimento de educação e ensino. Na qualidade de docente dos Centros de Actividades Ocupacionais do Funchal (CAO’s) de Santo António, São Roque e São Pedro da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER) e, enquanto pioneira na sensibilização dos jovens com necessidades especiais (NE) dos CAO’s no mundo da música e dos sons, tenho vindo a obter resultados que comprovam tudo o que referi anteriormente. O gosto que estes jovens demonstram pelas áreas de expressão, a sensibilidade e o empenho que dedicam na elaboração de cada trabalho e a motivação incansável e eterna tornaram-se os constituintes do meu próprio combustível para conduzi-los sempre mais além! Ao longo destes quatro anos de experiência, têm sido mais do que notórias as mudanças ocorridas em jovens com dificuldades em verbalizar, comunicar, expressar, com falta de autonomia, auto-estima e auto confiança, que, a par e passo, conseguem conquistar cada um desses itens, especialmente com a ajuda da música e das áreas das expressões em geral. É extremamente compensador e gratificante verificar, no dia-a-dia, que determinado jovem já é capaz de concretizar determinada tarefa com mais autonomia ou que já se consegue exprimir com mais facilidade e, consequentemente, ser melhor compreendido pelo outro. E, por outro lado, descobrir, ao longo do tempo e da concretização de cada trabalho, o grande artista que cada um tem dentro de si e que se desconhecia até então, alimentando gostos e interesses musicais e artísticos, fomentando conhecimentos culturais. Conhecer e estar em contacto com o universo dos palcos e dos espectáculos! Aprender a assumir as suas responsabilidades, perceber como se prepara e concretiza um concerto, como se deve apresentar um artista… e qual o seu papel, estimulando a vertente crítica individual e de grupo… enfim… explorar, trabalhar e polir cada um para o mundo dos músicos, dos artistas, dos actores… dos outros “eu” e, claro, despertar vocações artísticas! É, portanto, a partir destas linhas traçadas que se baseia a minha procura constante para que as aulas de Educação Musical sejam um espaço aberto e fértil, onde a vivência musical extrapola a simples exploração de conteúdos. Estas aulas devem, assim, oferecer aos utentes a “possibilidade de viverem, sentirem, escutarem, apreciarem, conhecerem, pensarem, explorarem, descobrirem… a música, a partir de experiências lúdicas e socializadoras” (Amaral & Martins, 2009, p. 4), sempre numa perspectiva integrada com as outras áreas de expressão artística. O Coro “Capinhas” é um dos muitos exemplos de todo este trabalho que se tem vindo a desenvolver nos CAO’s. Trabalho esse que tem procurado ser o mais diversificado possível, a fim de explorar as múltiplas vertentes da música e das áreas de expressão artística com esta população (canto, dança, drama, execução de instrumentos tradicionais ou exploração de materiais do quotidiano para criação de novas fontes rítmicas e sonoras). Este grupo surgiu no CAO Funchal, em 2001, com o objectivo inicial de cantar o Natal e os Reis, actuações integradas na Semana Regional da Pessoa com Deficiência. A partir de 2005, o grupo tem sido orientado e dirigido por mim, num projecto inserido no programa da disciplina de Educação Musical, no qual duas vezes por semana, é ensaiado um repertório variado (em género e línguas), não só para a época natalícia, como também para outros eventos e actividades que se vão proporcionando. Até este momento, o Coro “Capinhas” já efectuou inúmeras actuações integradas em espectáculos, tanto pela iniciativa da própria DREER, como em resposta a convites de outras instituições e serviços. Para além disso, já foi gravado um CD, intitulado “O Nosso Olhar”, com o intuito de vincular todo o trabalho até então efectuado. O principal instrumento de trabalho é, indubitavelmente, a voz, onde se explora, a partir do canto e do gosto de cantar, as diversas vertentes sonoras, desde a dicção, a verbalização de palavras, a postura corporal à afinação e colocação da voz. A Orquestra Orff da DREER é uma outra experiência que iniciei em Outubro de 2008, sensivelmente, em colaboração com o seu principal responsável, o Professor João Atanásio. A Orquestra Juvenil da DREER teve a sua génese, primeiro sob o impulso dos professores Agostinho Bettencourt, Benvinda Carvalho, João Atanásio e José António Camacho, tendo iniciado a sua actividade formal em 1986, sob a orientação do Professor João Atanásio que a tem dirigido pedagógica e artisticamente até à actual data. Inspirada na pedagogia musical de Pierre Van Hawve e nos métodos Orff e Kodaly, tem desenvolvido temas tradicionais do folclore português e estrangeiro, assim como composições e arranjos inéditos. Em Dezembro de 2000, editou e lançou o seu primeiro CD. As primeiras experiências inclusivas surgiram em 2006, associadas ao Coro de Câmara de Lobos e ao grupo musical Banda d’Além, com a apresentação de alguns concertos inclusivos. Durante este curto espaço de tempo de contacto com a Orquestra, tenho vindo a descobrir como funciona este grupo que integra crianças e jovens com NE, de vários sectores concelhios (pertencentes aos CAO’s ou aos serviços técnicos de educação da DREER), bem como os respectivos docentes de Educação Musical desses locais. Neste projecto, o comando principal incide na exploração e execução instrumental, individual e em grupo, onde se interpretam variadíssimas composições, desde instrumentais a canções para coro e orquestra, trabalhando diferentes estilos musicais, a várias vozes, com a utilização de diversas fontes sonoras, a fim de enriquecer a interpretação de cada peça. Trata-se de uma experiência que ainda vai muito no início… uma caixinha de surpresas ainda não aberta totalmente... um cantinho que me tem feito sentir o tão longo caminho ainda por percorrer, mas, em contra partida, onde já tive o privilégio de adquirir algumas aprendizagens que tanto me têm enriquecido, a nível profissional e pessoal. Através das vivências diárias, tenho vindo a sentir e a defender aquilo que, geralmente, todos sabem: a própria dinâmica destes grupos trabalha cada jovem em função do colectivo, sem excluir ninguém. Can tando ou tocando a uma ou várias vozes (naipes), os participantes e os ouvintes vão-se apercebendo e sentindo que a “soma de todas as diferenças de cada um pode produzir resultados harmoniosos e enriquecedores, onde é possível viver uma socialização sem barreiras” (Carvalho, 2006) e, portanto, mais solidária. Uma alternativa mais do que sadia na constante procura de minimizar o individualismo e a competição exagerada, tão estimulada e incrementada pela socie dade, ainda para mais, quando se trata deste tipo de população. Claro que o êxito de cada grupo depende muito do empenho de cada um, mas no produto final todos saem vencedores aos mais diversos níveis: interpretação e execução musical, rigor e qualidade no empenho, formação pessoal e personalidade. Em suma, sou uma mera aprendiza destes jovens tão especiais que, sem dúvida, têm marcado e vinca do a minha vida, o meu ser, a minha personalidade e, sobretudo, a minha ainda muito curta experiência e percurso profissional. Com eles e com o trabalho que desempenhamos em conjunto, sinto-me muito mais do que realizada! Faça o que fizer, diga o que disser, nunca conseguirei descrever em pleno tudo o que vai cá dentro! As palavras tornaram-se muito poucas e demasiado pequenas! Trata-se de uma experiência muito intensa e profunda, cuja descrição poderá ser julgada por muitos como exagerada. Contudo, a verdade é que mais do que um trabalho, um emprego ou uma mera experiência, tem sido, inquestionavelmente, uma grande aprendizagem, uma grande vivência que já marcou e que deixará, certamente, os seus vestígios no futuro, estimulando influências no meu percurso de vida! Depois do silêncio, aquilo que mais aproximadamente exprime o inexprimível é a Música. (Aldous Huxley) Referências Bibliográficas: Amaral, A. & Martins, A. (2009). Música 1. Educação Artística – 1.º Ciclo do Ensino Básico. Livro do Professor. Porto: Porto Editora. Carvalho, E. (2006). Em defesa do Ensino de Canto nas Escolas. [on-line]. Disponível no URL: http://br.geocities.com/madrigal_nova_harmonia/coralescola.html Acedido em 25 de Maio de 2009. Ongaro, C.; Silva, C. & Ricci, S. (s/d). A Importância da Música na Aprendizagem [on-line]. Centro Técnico-Educacional Superior do Oeste Paranaense. Disponível no URL: http://www.unimeo.com.br/artigos/artigos_pdf/2006/internet_13_10_06.pdf Acedido em 25 de Maio de 2009. Canto, Melodia, Vida! Noélia Ferreira - Serviço Técnico de Educação para a Deficiência Intelectual Não importa o estilo, o ritmo, a melodia, os instrumentos… o importante é que a música faz parte da vida do Homem. Cada um ouve aquela que mais gosta e interpreta-a à sua maneira. A transmissão de conhecimentos na área da música nas escolas e instituições é muito gratificante, por um lado, devido à experiência que se adquire a vários níveis e, por outro, pela agilidade que se obtém ao aprender a lidar com situações diversas, onde a importância e a beleza da música ocupam um lugar de excelência na vida de cada pessoa. Neste contexto, desde Novembro de 2007, o coro da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER) tem vindo a trabalhar de forma a dar voz à música e a alcançar esse objectivo. No presente ano, a direcção técnica e musical foi assumida por mim. Este tipo de tarefa, de elevada responsabilidade, gera alguns receios pois consiste num trabalho de grande dimensão, a nível coral. O coro é constituído por utentes dos Centros de Actividades Ocupacionais do Funchal (Santo António e São Pedro) e de Machico, por técnicos profissionais, docentes, funcionários da DREER e por elementos ex ternos, num total de 30 participantes. Uma vez que nem todos os utentes podem com parecer aos ensaios, que decorrem semanalmente às Terças-feiras, entre as 19 e as 21 horas, o repertório é trabalhado nos diferentes locais pelos professores de Educação Musical. Depois desta fase, todos os ele mentos do coro juntam-se uma vez por mês, à Sexta -Feira, para os ensaios gerais. A obtenção de um bom trabalho exige a criação e aplicação de inúmeros métodos, que permitam um melhor conhecimento do “material humano”, essencial à gestão posterior dos potenciais de cada elemento. Este é um processo que vai gradualmente tomando forma. Inicialmente, são transmitidas e apreendidas as primeiras notas, como os vocalizos a uma e a duas vozes. Numa fase posterior, trabalham-se alguns temas tradicionais em forma cânone, a uma e duas vozes e ainda duas melodias em simultâneo. Estes primeiros vocalizos e canções têm como objectivo avaliar os coralistas no sentido da afinação, ritmo e postura corporal. Após a aprendizagem de te mas tradicionais portugueses, é já possível passar a ensaiar outros temas internacionais, que requerem no entanto uma atenção redobrada. Neste momento, o coro encontra-se a preparar algumas canções inglesas e uma canção tradicional africana, um repertório com, sensivelmente, trinta mi nutos, composto pelos seguintes temas: Rapsódia - Abba, My Bonnie - canção americana, Kokoleoko - tradicional africana, Ob-ladi, ob-lada - Beatles, Queda do Império - Vitorino e Rapsódia Tradicional Portuguesa. O coro actuou com este repertório no dia 22 de Maio, no âmbito da Feira da Amizade, que teve lugar no Jardim Municipal. Estes temas também foram apre sentados na cerimónia de abertura dos XVII Jogos Especiais, com uma actuação a solo do coro e outra em conjunto com a Orquestra da DREER. Para terminar as actuações deste ano lectivo, o coro colaborou no espectáculo musical-dramático “Eu Crio o meu Mundo”, dando voz e ritmo a alguns temas. Este evento teve lugar no dia 9 de Junho, no âmbito do espectáculo de encerramento dos Jogos Especiais. Trabalhar com um grupo tão diversificado não é tarefa fácil. É necessário tempo para conhecer o grupo no seu todo e imprescindível a presença e dedicação, de corpo e alma, de todos os elementos do coro. Muitas são as adaptações necessárias para que os vários constituintes do grupo e eu, como maestrina cega, possamos acompanhar todos os passos e dar voz aos nossos sonhos. Aliás, uma das maiores dificuldades sentidas consiste em adaptar as partituras das canções do negro para o sistema Braille, uma vez que o programa de conversão não é acessível por ser demasiado dispendioso. Neste caso particular, todas as partituras são adaptadas (nota a nota, pausa a pausa) manualmente, através da máquina Braille, trabalho conseguido mediante a colaboração de vários docentes de Educação Musical que ditam as canções. Uma execução deste tipo exige muita concentração e torna-se cansativa, tanto para quem está a ditar como para quem está a escrever. A vivência do coro é, de facto, uma experiência única, pela oportunidade de conhecer, conviver e trabalhar com pessoas de diferentes faixas etárias e diversos sectores profissionais. Na partilha destes momentos, é possível aprender uns com os outros e usufruir de gratificantes horas de lazer, donde nascem todos os dias novas amizades que, com certeza, irão florescer pela vida fora. A minha ideia é que há música no ar, há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa. Edward Elgar Dança Ferramenta de Inclusão Social Henrique Amoedo - Associação dos Amigos da Arte Inclusiva - Dançando com a Diferença O Grupo Dançando com a Diferença nasceu de uma iniciativa mais ampla chamada Projecto Dançando com a Diferença, desenvolvida de Setembro de 2001 a Junho de 2007 na então Divisão de Arte e Criatividade (DAC) da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER) da Secreta ria Regional de Educação e Cultura (SREC). Desde então, esta iniciativa da responsabilidade de Henrique Amoedo, desenvolve-se através da Associação dos Amigos da Arte Inclusiva - Dançando com a Diferença, na Ilha da Madeira. Arte e cura, arte e vida, arte e mudança social compõem o trinómio de base do trabalho desenvolvido neste projecto de dança inclusiva. Em Julho de 2005 foi estabelecido um protocolo de colaboração com a Sociedade de Desenvolvimento Ponta do Oeste que transformou o Grupo Dançando com a Diferença na Companhia Residente do Centro das Artes Casa das Mudas, um importante espaço cultural da Região Autónoma da Madeira (RAM). Singular não só pelas características do seu edifício, este espaço cultural contempla entre os seus objectivos, o desenvolvimento de uma política inclusiva em termos de oferta cultural, permitindo a diferentes grupos o acesso à cultura, ao lazer e à produção artística. Para o Grupo Dançando com a Diferença, este foi um momento importantíssimo, pois, pela primeira vez em Portugal, um grupo com a singularidade de ter um elenco composto por pessoas com e sem deficiência conquistava um local vocacionado às artes e à cultura, com excelentes condições para o desenvolvimento das suas actividades, bem como a sua residência artística. Posteriormente, num outro protocolo de colaboração estabelecido com a Câmara Municipal do Funchal, através do Ginásio de São Martinho, o Projecto Dançando com a Diferença passou também a atender uma população menos jovem. A possibilidade de partilha de experiências e de aceitação das diferenças, geradas através do contacto entre os utentes do ginásio e os elementos do elenco do grupo de dança inclusiva estiveram na base desta acção. Na diversidade do elenco está a principal característica do Grupo. Independentemente de terem ou não algum tipo de deficiência, formação académica em dança ou alguma experiência anterior, valorizam -se as capacidades individuais dos intérpretes. Há que descobri-las e explorá-las num trabalho de intensa entrega e valorização pessoal. Diferentemente do que acontecia nos Freak Shows, em meados do século passado, para este grupo é importante a utilização das diferenças no resultado estético-artístico daquilo que apresenta e não a sua exposição gratuita. O Grupo Dançando com a Diferença tem vindo a conceber o seu repertório com a colaboração de vá rios coreógrafos, com nove criações de 2002 a 2007, de oito criadores diferentes. A colaboração com diversos profissionais é de suma importância para o crescimento técnico, artístico e pessoal dos intérpretes, assim como para a afirmação do Grupo no cenário contemporâneo da dança. Ivonice Satie, Clara Andermatt, Henrique Amoedo, Rui Horta e Elisabete Monteiro são os criadores dos trabalhos em exibição neste momento. A diversidade de coreógrafos é enriquecedora e estimulante para o elenco de intérpretes. As adaptações individuais necessárias, para que as propostas dos mesmos sejam atendidas, criam nestes a necessidade de reduzir os seus tempos de resposta, ajustando-se rapidamente às novas formas de trabalho, algo extremamente positivo num elenco tão heterogéneo e que se pretende versátil. Diferentemente de outras companhias de repertório, tentámos sempre reservar um período, após a criação e antes da estreia, para que a obra concebida seja interiorizada por todos os membros do elenco, reflectindo-se numa maior segurança em palco. As adaptações aos diferentes processos de trabalho não resultam da mesma forma para todas as pessoas, como é óbvio. No quotidiano deste grupo temos de lidar com diversos ritmos de aprendizagem e formas na transmissão das mensagens, entre outras diferenças. A aprendizagem de uma sequência coreográfica não ocorre do mesmo modo, se considerarmos dois intérpretes, um cego e outro sem deficiência, por exemplo. A intencionalidade sugerida num determinado contexto coreográfico não é percebida da mesma forma por um intérprete de catorze anos, com deficiência intelectual, e outro de trinta anos, com formação académica superior, sem deficiência. Os ritmos de produção não podem parar mas devem-se considerar todas estas variáveis e outras que constantemente surgem. O crescimento técnico, artístico e pessoal é algo almejado por todos. Não sabemos se existe uma maior força de vontade e empenho dos intérpretes com deficiência. Este talvez seja o senso comum e não reflicta necessariamente a verdade. O que podemos dizer, com toda a certeza, é que no Grupo Dançando com a Diferença todos exercem uma actividade em que participam de livre e espontânea vontade. Ainda não são profissionais e, quiçá, o sejam rapidamente. Empenho, motivação e disponibilidade para o trabalho são características marcantes e necessárias para o êxito e eles possuem-nas. Só a partir da modificação individual de todos os intervenientes neste agrupamento inclusivo de dança é que podemos extrapolar o nosso campo de acção. Primeiro ocorre uma modificação pessoal e interna para depois, através dos espectáculos, levarmos isso ao público. É impossível e nada desejável que uma pessoa se exponha cenicamente se não estiver preparada para isso (tenha ela ou não algum tipo de deficiência). Todo o trabalho de base desta iniciativa é desenvolvido nos Grupos Secundários do Projecto, actualmente o Grupo Dançando com a Diferença Júnior e o Grupo Dançando com a Diferença Sénior/Ginásio de São Martinho, que para além de serem um recurso auxiliar aos aspectos educativos e/ou terapêuticos, servem como uma das bases para a formação de pessoas que eventualmente possam integrar o elenco do grupo principal. O conhecimento é a maior arma contra o preconceito, que normalmente ocorre quando estamos distantes de algo que não conhecemos o suficiente. Isto também ocorre no universo da deficiência. Não deixemos que também aconteça na dança, pois são bailarinos que dançam com o corpo e não apesar do corpo. Alguns dos coreógrafos convidados A Clara Andermatt esteve connosco em dois períodos durante o ano de 2005. Como já havíamos escrito num dos programas de apresentação da sua criação, “Levanta os Braços como Antenas para o Céu”, o encontro dos mitos, marcou a primeira fase da residência coreográfica, num total de vinte dias. Para a Clara foi o encontro com o mito da diferença e a oportunidade de conhecer uma nova realidade, com o compromisso de a incluir no seu percurso de criadora. Para os que compõem o Grupo Dançando com a Diferença, foi o encontro com um mito da dança. Rapidamente e durante o processo, os mitos caíram e ficaram as pessoas, unidas pelos corpos que dançam. Para os quinze dias que antecediam a data de estreia, estava marcado o reencontro. Nesta fase, a poética da diferença entrou em cena. Com a queda dos mitos foi mais simples, mas não menos trabalhoso, transformar a realidade e, como ela mesmo disse, “pegar numa equação e mudar-lhe o sinal”. Na prática, a poética da diferença trouxe-nos a transformação do feio em belo, das dores em prazeres, das incapacidades em capacidades... e muito mais. “Levanta os Braços como Antenas para o Céu” estreou a 28 de Julho de 2005 e, até hoje, levantamos os braços para o céu e agradecemos por este encontro. Em “Tempus Incertus”, voltámos a recorrer à Arquimedes Produções Estereográficas para a criação de um filme em tecnologia 3D estereográfica. Alfredo Reis Deus, o responsável pela vídeo-arte e a coreógrafa Elisabete Monteiro criaram, num ambiente virtual, um filme que complementa a movimentação dos bailarinos e adereços cénicos, no palco. Esta coreografia “explora (a)casos, ancorados na 18 Diversidades solidez precária das certezas temporárias. São diálogos de afectos - encontros e desencontros - dualidades de uma forma de ser, em eloquências de gestos, que contrastam, se complementam ou ignoram, de forma (im)previsível? É a noção de um ‘incerto exacto’, como a própria vida - efémera, sublime e vulnerável. Por um pequeno nada tudo muda, por um breve instante, um eterno retorno ao mesmo”, nas palavras da coreógrafa. Em função da sua dinâmica, dentro e fora de cena, esta coreografia requer uma atenção constante de todos os intérpretes, constituindo-se num desafio a cada espectáculo. Tecnicamente também é muito exigente, reflectindo e influenciando o crescimento técnico do elenco e o seu máximo aproveitamento pela coreógrafa, algo que só foi possível devido ao profissionalismo e competência de Elisabete Monteiro, que além de óptima coreógrafa é uma excelente pedagoga, algo que precisávamos muito naquele momento. Depoimentos Clara Andermatt - coreógrafa de “Levanta os Braços como Antenas para o Céu” (2005) “A minha primeira memória é a de ter sido convidada pelo Henrique, em 2000, para criar para a companhia. Não aceitei em grande parte por indisponibilidade de calendário, mas por outra parte, não me sentia preparada e disponível psicologicamente. Disse-lhe isso mesmo. Ele percebeu e não desistiu, mas eu demorei 3 anos para aceitar o desafio com convicção. Tenho experiência de trabalho com corpos diferentes, com bailarinos clássicos, modernos, amadores, crianças, actores, músicos, de diferentes culturas, idades e condições sociais, mas nunca tinha trabalhado com pessoas com deficiência… e foi mais uma experiência enriquecedora, gratificante, feliz. Uma vivência diferente porque são pessoas que têm corpos com características diferentes, como todos os outros, como todos aqueles, como todos nós. O Henrique ensinou-me e ajudou-me muito na compreensão, na desmistificação e na sensibilidade que é importante e necessário ter para comunicar, passar informação, trocar ideias, ter noção das dificuldades, dos problemas, das especificidades e dos padrões, das tristezas e das alegrias. Ainda ao longe, tive acesso a material em vídeo do Projecto Dançando com a Diferença e de espectáculos anteriores, a informação escrita e detalhada sobre a deficiência, sobre a personalidade e o comportamento de cada bailarino, fundamental para eu me situar! E não esqueço a maneira prática, simples e pragmática como o Henrique me passou toda essa informação. Soube igualmente que o elenco tinha bailarinos que não têm deficiência, fundamentais para o equilíbrio do grupo, do ponto de vista artístico e humano. Consegui ver e não mais imaginar e comecei a trabalhar... Chegou o momento de ir para a Madeira e dar início à criação em estúdio e conhecer o grupo. Pedi ao Henrique que desse a primeira aula para eu observar - foi maravilhoso! Cada passo dado até chegar efectivamente a criar com os bailarinos contribuía para simplificar a maneira de abordar o trabalho. Em conjunto, improvisámos, os bailarinos criaram solos, - alguns deles fazem hoje parte da peça - descobrimos coisas juntos, como ultrapassar dificuldades físicas, como ultrapassar limites do corpo e da mente, vive mos momentos intensos, rimos muito e também chorámos, alguns bailarinos saíram a meio do processo por razões vá rias, fui exigente como sempre sou, trabalhei com cada um e para cada um através dos seus olhares, gestos, palavras, corpos. Tenho um gosto especial por esta peça! Viver realidades diferentes aproxima-nos da vida, ensina-nos a perceber que vivemos todos uma história comum. Obrigada Grupo Dançando com a Diferença!” Elisabete Monteiro - coreógrafa de “Tempus Incertus” (2007) Escrever sobre a experiência de coreografar para o grupo, como me foi solicitado, é quase como tentar que “a mes ma água passe duas vezes sob a mesma ponte”. É revisitar sensações e emoções. É ter a oportunidade de expressar as formas então encontradas com o fascínio que, surpreendentemente, a distância não alterou e até refinou. E porquê? Porque se trata de ‘coreografar’. E coreografar para mim é uma forma de estar, de olhar e pensar o mundo, de ter algo a dizer, mesmo que tão só de fazer sentir. Os bailarinos são Abril-Junho 2009 19 a nossa voz - como gritos de silêncio -, o nosso gesto - que capta e captura os corpos que o reinventa ou a eles por direito pertence -, a projecção da nossa mensagem, mesmo que indizível, incompreensível, íntima. Perante a proposta inicial de qualquer criação, a angústia do coreógrafo - quase um acrobata da forma - que (re)inventa/compõe relações e tensões nos gestos traçados que criam e rasgam o espaço, constitui o primeiro momento verdadeiramente assustador. E a principal dúvida com que sempre me confronto é: que mais-valia me dão os bailarinos com quem trabalho? Por isso, houve uma primeira abordagem para perceber pormenores, detalhes, perspectivas perante vários estímulos iniciais como argumento para começar a entender o grupo na sua especificidade. E foram as possibilidades e características de cada um que permitiram desenvolver todo o percurso em 3 semanas. A “contaminação”, a partilha aconteceu. E foi claro para mim que pretendia abordar os diferentes ângulos de uma mesma realidade: humor, amor, ânsia, nostalgia, indiferença, persistência, tempo - intenso, denso, suspenso. Reflexos ou distintas perspectivas, fragmentadas, numa realidade em cujo puzzle ilusoriamente pretendemos encaixar. Por isso, o recurso ao cubo, como um sólido sociável que pode ser aglomerado. Inclusivo? Neste sentido, o suporte musical, verdadeiro regulador e facilitador do desempenho dos bailarinos, correspondeu também ao ambiente e textura pretendidos para responder à minha intenção, pela impossibilidade de criar de forma concomitante a coreografia e a música. Foram várias as seleccionadas, pequenos extractos de cada uma, também fragmentos, como passagens. Meros instantes. Mas excepcional foi todo o trabalho multimédia realizado, este sim, concomitante ao movimento, sendo uma extensão, mas também uma outra perspectiva dos gestos em cena. Facto e ficção se misturaram e o espectador via o todo: uma uni dade, sem perda contudo do pormenor e do detalhe que, por vezes, de forma fugaz teimava em escapar ou com surpresa se mostrava ao olhar. ‘Tempus Incertus’ foi a noção de um ‘incerto exacto’, como a própria vida - efémera, sublime e vulnerável. Por um pequeno nada tudo muda ou se volta ao ‘eterno retorno ao mesmo’. Por isso, o recurso ao relógio, ao tempo, para dar a noção de precisão, infinitamente exacto, porém imponderável. Desde logo, senti necessidade de, num primeiro mo mento, definir exactamente o que não queria, para depois libertar o pensamento e direccionar toda a minha pesquisa para este desafio, assustador (pelo receio de não conseguir), mas fascinante também, pela situação de desigualdade que colocava. Eu, contrariamente à experiência dançada dos bailarinos, nunca tinha coreografado para um grupo as sim tão heterogéneo. Foi logo claro para mim que a deficiência não era como o parêntesis que se permite. Não quis por isso ceder à emoção fácil de que o sentimento de ‘pena’ é exímio. Porque fazê-lo era reconhecer menoridade aos bailarinos e a minha própria incapacidade como coreógrafa. Era como pactuar com limites de contornos vagos porque desconhecidos e constrangedores, tidos como errados pelo lapso de um corpo que ‘não deu certo’. Não é a negação da sua própria situação que defendo, mas também não foi a sua exposição que me acompanhou, porque fazê-lo era reconhecer-lhe maioridade e não era essa a minha intenção. Os bailarinos têm nome apenas, a sua deficiência não está incluída. Para mim foi, tão só e apenas, a pretensão de que o olhar que atravessa o corpo que dança, deve perseguir a excelência e a exigência possível que a dignidade de qual quer trabalho de índole artística tem e o público reconhece. Dançar com o corpo e não apesar do corpo, o lema. E a humildade e a apetência para sempre evoluir e se superarem, o facto que com o grupo constatei. Todos nós somos um conjunto de singularidades, transportando de forma mais ao menos evidente, erros, dificuldades, necessidades, desejos, conquistas e êxitos. Inquietação, insegurança, dúvida, claro! Mas quando não é assim? E termino com um extracto do poema de Alexandre O’Neill,: “…Porque é tempo de romper com tudo isto/É tempo de unir no mesmo gesto o real e o sonho” (2000, p. 30). E no contexto deste texto, o sonho será uma dança temporariamente inclusiva enquanto quisermos preencher vazios tão cheios. Um dia, então talvez só ‘dança’, como realidade. Ou o seu contrário? De uma ‘apenas’ dança, como o sonho a perseguir? Referências Bibliográficas: O’Neill, A. (2000). Pela voz contrafeita da Poesia. In Poesias Completas. Lisboa: Assirio & Alvim (pp. 27-31). Arte-Terapia na Educação Especial Carla Ferreira - Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia Esta reflexão baseia-se num trabalho de estágio realizado, sob a orientação de Ruy de Carvalho (Médico, Arte-Psicoterapeuta, Membro Fundador e Vice-Presidente do Conselho Científico da Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia), com o propósito de implementar um atelier de arte-terapia, numa instituição de educação especial, tendo como população alvo um grupo de crianças com Síndrome de Asperger. A síndrome de Asperger, transtorno de Asperger ou desordem de Asperger é uma síndrome do espectro autista, diferenciando-se do autismo clássico por não comportar nenhum atraso no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo. Alguns sintomas desta síndrome são: dificuldade de interacção social, falta de empatia, interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com mudanças e perseveração em comportamentos estereotipados. O atelier de arte-terapia vivencial implementado visa essencialmente o recurso aos materiais e estratégias próprias das artes plásticas, bem como a aquisição de competências criativas através da escuta e da expressão musical, privilegiando a expressão espontânea das crianças tanto lúdica como artística. Esta intervenção, realizada num ambiente contentor, facilitador do contacto e da relação interpessoal mediada, focaliza-se essencialmente na estimulação sensorial, com o apelo a materiais e recursos técnicos artísticos próprios da arte-terapia. O desenho, a pintura, a modelagem, as colagens, os vitrais, a fotografia, e outras técnicas combinadas como o desenhar ou o pintar a partir de histórias, o cadavre exquis, o modelar de olhos vendados, a dança e o movimento, são alguns desses recursos. Os procedimentos de interacção utilizados, ao nível da comunicação emocional com as crianças, procuram trazer benefícios, no sentido em que ao longo das sessões é privilegiada a relação dialógica manifesta nas atitudes de empatia, interesse, compreensão e preocupação por cada uma. Estas atitudes permitem que as crianças se sintam tranquilizadas através das expressões desenvolvidas e que no decurso das actividades catalisem necessidades, apelando à promoção do estabelecimento de vínculos. O ambiente contentor criado neste tipo de atelier possibilita a cada criança trabalhar com a máscara do diálogo interno, abrindo brechas para momentos em que a curiosidade se torna mais forte que o medo, permitindo assim que coisas muito interessantes aconteçam. É o descentrar do tema para que naturalmente este venha ao seu encontro, sem que o arte-terapeuta ou as crianças façam a menor ideia de como isso irá surgir. De alguma forma, aquele movimento, aquela pintura, aquela poesia, expressam a alma daquela vida - é o surgir do menestrel da alma. Estudo de Caso O relato aqui apresentado refere-se a um aluno que se encontra inscrito no 5.º ano de escolaridade, a nível oficial, mas que nesta instituição de educação especial frequenta o 1.º ano, de acordo com a avaliação das suas competências. A sua apresentação tem como intuito alertar para os sucessos, angústias e fracassos da terapia pela arte. O Manuel tem 14 anos de idade e foi-lhe diagnosticada a síndrome de Asperger. Aos 4 anos, após o abandono do lar por parte da mãe e as queixas de violência e alcoolismo por parte do pai, foi entregue à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Ris co, passou por um centro de acolhimento temporário, sendo anos mais tarde transferido para uma associação de lares familiares para crianças e jovens. Quando ia buscar o Manuel à sala de aula ou ao recreio, ele parecia alheio a tudo. No início, as directoras do colégio apresentaram-me como arte-terapeuta e o Manuel queria e esperava que eu lhe desse, constantemente, as instruções a seguir, como se uma das suas professoras se tratasse. Com o tempo, o jovem tem vindo a aceitar a natureza aberta das sessões, tendo já ultrapassado as suas reservas interiores e algum desapontamento inicial. Durante as sessões de terapia, o Manuel perante a frustração, desencadeava comportamentos regressivos para a idade, como os “amuos”, e referia muitas vezes que as actividades eram difíceis e que não ia conseguir executá-las, mesmo antes de as começar. Este tipo de comportamento está fortemente relacionado com as problemáticas de abandono, que consecutivamente levam ao desenvolvimento de personalidades caracterizadas por uma grande fragilidade, em que as “recusas” são novamente sentidas como abandonos, reforçando assim a instabilidade e a perda. Quando o mundo interno é povoado por afectos de vazio e perda, o reforço de novas perdas, ainda que por vezes pouco significativas aos olhos dos outros, são sentidas por estas crianças como intoleráveis, daí a zanga que se reflecte no seu comportamento. As primeiras sessões centraram-se no desenho e na pintura, e o Manuel independentemente da pintura que fizesse, desenhava sempre primeiro a lápis, fazendo uso constante da borracha. Após as primeiras sessões, sugeri-lhe que tentasse pintar directamente, sem antes ter de fazer uso do lápis e muito menos da borracha, o que acabou por experienciar apesar de inicialmente contrariado. A partir da integração desta pequena mudança, tornou-se nítido o prazer nessa sua nova liberdade. Numa das primeiras sessões, foi sugerido o desenho da figura humana, mais especificamente de um homem (por exemplo, o pai ou o tio). O traço ganha uma relevância particular, permitindo que a narrativa simbólica implícita na figuração forneça o enquadramento discursivo. A criança elabora os conceitos de homem, de objecto e de ambiente com base nas experimentações anteriores. Quando se apodera de uma forma ou símbolo para representar o Homem, repete-a até que uma experiência significativa modifique o seu conceito, e nessa altura o esquema é reformulado. Como se trata de um esquema flexível, aceita desvios e variações, não se tratando de um estereótipo. Esta técnica permitiu a tomada de consciência de desvios, como a transferência de símbolos para zonas afectivamente significativas. O Manuel parecia preso numa quase compulsiva forma de repetição do tema das armas, da guerra e da agressividade. Conclusões Apesar de previamente definidos os objectivos propostos e os procedimentos a seguir em cada sessão, a forma e os contornos específicos que o processo terapêutico toma, são sempre muito peculiares, idiossincráticos e das coisas mais fascinantes que possamos imaginar. Apenas se pode tentar adivinhar a forma particular como cada uma das crianças vai reagir a cada oportunidade de ajuda. O ritmo de crescimento e de mudança de cada uma não pode jamais ser acelerado, por isso com eles aprendi a estar preparada e aberta, tanto para os movimentos de avanço que surgiam, como para os de retrocesso. Através desta intervenção, cada criança teve a oportunidade de expressar os seus sentimentos sem de modo algum os ver criticados, e através da expressão mediada pôde experienciar a actualização dos afectos, entre outras experiências reparadoras. Se não houver na relação dinâmica oportunidade de demonstrar a zanga, também não haverá espaço à demonstração do amor. Quando a terapia terminar através do mútuo consentimento, apenas espero que estas crianças tenham sido capazes de integrar todo este processo de auto-descoberta, por forma a serem capazes de prosseguir no seu crescimento e a cooperar com a vida, apesar dos problemas que certamente as continuarão a revisitar. Cinema Inclusivo: Soluções Diferenciadas Comunicação Abrangente Josélia Neves - Instituto Politécnico de Leiria Embora passem despercebidos à maioria das pessoas, surgem agora, lado a lado com centenas de outros em várias lojas do país, DVD’s que se apresentam como sendo “para Todos”. São muito poucos. Os dedos de uma mão sobram quando os queremos contar. Nada mesmo se os compararmos com o que acontece numa qualquer loja da especialidade em Londres ou Nova Iorque. Sabemos que esta comparação será em si mesma desleal mas, sem dúvida, sintomática do caminho que ainda temos de trilhar se nos quisermos posicionar entre aqueles que acreditam que o direito à informação e ao entretenimento é incontestável. Apesar da grande diferença em termos numéricos, quando comparados com os mais avançados nestas matérias, somos também os primeiros no que toca à criação de um mesmo DVD com soluções múltiplas de acessibilidade: legendagem intralinguística para pessoas com surdez adquirida ou surdos oralisantes; interpretação gestual para surdos que comunicam através da Língua Gestual Portuguesa (LGP) e áudio -descrição (AD) para pessoas cegas. Na verdade, os dois DVD’s com características inclusivas trazidos ao mercado português, “O Nascimento de Cristo”1, em 2007, e “Atrás das Nuvens”2, em 2008, ambos lançados pela Lusomundo/Zon Lusomundo, são em muito diferentes de todos os outros que se encontravam já no mercado, tanto em Portugal3, como no estrangeiro, pelo simples facto de comportarem todas as soluções atrás registadas num mesmo DVD, com características de navegação áudio especiais. Sendo Portugal um país que habitualmente legenda os seus produtos audiovisuais, é comum encontrar legendas (interlinguísticas), na televisão, no cinema e em formato DVD. No que diz respeito à televisão, pode operacionalizar-se de várias formas: através de sessões especiais, com soluções de acessibilidade em formato aberto ou de forma inclusiva, com suportes à medida. A solução inclusiva, ao permitir que, numa qualquer sessão, pessoas com diferentes perfis possam assistir ao mesmo filme em simultâneo, recorrendo a técnicas diferenciadas fornecidas de forma individualizada, utilizando sistemas alternativos (ex: AD através de auriculares individuais e legendagem ou interpretação gestual através de ecrãs móveis individuais), obrigará a que esses equipamentos sejam instalados nas salas de cinema que se proponham oferecer tais serviços. Soluções desta natureza existem já em várias salas de cinema europeias, mas não em Portugal. Esta não existência poder-se-á prender com a segunda questão a colocar, a da viabilidade económica. Equipar uma sala de cinema com soluções técnicas especiais poderá representar um investimento sem retorno visível ou imediato. Ir ao cinema ainda não é uma prática comum entre os portugueses e não o será ainda mais, por força das circunstâncias, entre pessoas com limitações sensoriais. É lícito que se questione se o serviço, uma vez existente, vai ser efectivamente utilizado, ou seja, rentabilizado. Como em todas as circunstâncias da vida, a oferta de cinema inclusivo exigirá uma fase de “aprendizagem” para que passe a ser efectivamente valorizado. “Ensinar” a consumir cinema (inclusivo) implicará, por parte dos promotores, um grande investimento inicial na sensibilização e na própria promoção do serviço: um investimento na “educação” de novos públicos que, uma vez cativados, poderão representar uma fatia interessante do mercado. Olhar a inclusão como promotora de mais-valias sociais e económicas surge-nos como a única forma de a promover, não como um serviço esporádico e alternativo, mas sim uma prática corrente e democrática, dando ao “outro” a possibilidade de escolha. Um serviço “para Todos”, à medida de “cada Um”. Terá sido esta a postura que conduziu os que desenvolveram as versões inclusivas dos filmes “O Nascimento de Cristo” e “Atrás das Nuvens”. Este último título, apresentado à imprensa como o “primeiro filme português verdadeiramente inclusivo”, veio a ser um importante contributo para um maior conhecimento do que implica tal inclusão. Apresentado em 8 salas de cinema de Portugal Continental, a 13 de Dezembro de 2008, e depois disponibilizado em formato DVD em todo o País, este filme fez reunir as várias soluções de comunicação inclusiva de forma harmoniosa, alterando mesmo algumas das convenções existentes. As sessões de cinema especiais, encaradas como acções de sensibilização, ofereceram em simultâneo, no mesmo ecrã e “para Todos”, três alternativas que normalmente se excluem mutuamente. Não surge como natural fazer reunir numa só exibição o texto fílmico acompanhado de legendagem, interpretação gestual e AD. Para os espectadores ouvintes e normovisuais aquela terá sido uma experiência de sobrecarga sensorial, nem por isso menos interessante pelo simples facto de poderem vivenciar, em formato combinado, alternativas comunicativas antes desconhecidas. Para as pessoas com necessidades especiais, terá sido uma experiência memorável. Alguns, de idade já avançada, nunca tinham entrado numa sala de cinema e não conseguiram esconder a emoção de terem “visto com os ouvidos” ou “ouvido com os olhos” e, acima de tudo, de terem podido partilhar a experiência com tantas outras pessoas com e sem limitações sensoriais. Estas emoções serão mais reservadas quando o mesmo filme é apreciado na sua versão DVD. Pelo facto do DVD ter sido cuidadosamente estruturado com vista a permitir que, guiando-se pela navegação áudio, uma pessoa cega o consiga carregar de forma autónoma, abre-se a múltiplas utilizações, por pessoas de diferentes perfis, em diversos contextos, modificando-se sempre para responder às necessidades específicas de quem o utiliza. Aquilo que torna estes filmes diferentes de todos os outros será, sem dúvida, o cuidado colocado nas soluções linguísticas que o acompanham. A AD, a interpretação gestual e as legendas estão feitas de modo a interagir de forma harmoniosa com o original, integrando-se quase, fazendo com que o espectador se esqueça de que existe ali “algo extra”. Esta preocupação é particularmente notória na AD que procura acrescentar, nos espaços sonoros da trilha original, informação complementar de pormenores visuais com valor narrativo. A descrição de uma personagem, o pincelar de uma paisagem, as emoções expressas em metáforas visuais, a própria explicitação de sons pouco perceptíveis, permitem ao espectador cego fruir da e por força de imposições legais europeias e nacionais, a oferta de programas com legendagem para surdos através do serviço de teletexto, interpretação gestual e, apesar de em menor quantidade e com algumas limitações técnicas, AD para cegos, tem vindo gradualmente a aumentar. Será mesmo de esperar que com a aplicação do novo plano plurianual que “define o conjunto de obrigações que permitam o acompanhamento das emissões por pessoas com necessidades especiais” (Deliberação 5/OUT-TV/2009, do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, de 28 de Abril de 2009), a oferta actual venha a duplicar dentro dos próximos anos. Já no que toca à oferta cinematográfica, no cinema e em DVD, nada existe que regule o fornecimento de soluções de comunicação inclusiva. Aí, só mesmo a sensibilidade de quem lança novos produtos no mercado pode fazer a diferença. A escassez da oferta levará a questionar as razões que continuam a impedir que mais de 20% da população portuguesa (de acordo com os Censos de 2001 e sem contemplar o crescente envelhecimento da população), partilhem a vivência fílmica numa sala de cinema convencional ou no conforto da sua própria casa, assistindo a um filme (em DVD) com familiares e amigos. Uma primeira pergunta será se tal oferta poderá implicar condições técnicas de difícil acesso. À semelhança do que se passa com os serviços de acessibilidade na televisão, abrir o cinema a pessoas com défice sensorial pode requerer soluções direcciona das, situação já diferente no que toca ao DVD que não exige qualquer equipamento específico para o efeito. A oferta de cinema inclusivo numa sala de cinema experiência fílmica em termos narrativos e estéticos. Com raízes nas antigas rádio-novelas, a AD permite a qualquer um fechar os olhos e deixar-se transportar através das palavras e dos sons. Esta técnica, uma forma de tradução intersemiótica (Jackobson, 1959, cit. por Jackobson, 2000), obriga o guionista que a produz, a compreender a obra original e a tudo fazer para não desvirtuar o sentido que o realizador lhe quis dar. Interrogado, no final da sessão de apresentação do seu filme com soluções inclusivas, sobre esta suposta “violação do original”, o realizador de “Atrás das Nuvens”, Jorge Queiroga, respondeu: “não vejo nada isto como uma coisa transformada porque alguém está a fazer uma interpretação na áudio-descrição (…) um espectador clássico faz a sua interpretação do fi l me a partir dos sons e das imagens na tela e outro (o cego) a partir da AD.” Esta liberdade de interpretação que Queiroga delega nos receptores da sua obra não será, de todo, igualmente partilhada pelo linguista que transpõe imagens em palavras. Dar a menos ou dizer demais pode efectivamente transformar uma obra, adulterando a mensagem do original ou interferindo nos efeitos produzidos. Fazer AD obriga a uma enorme competência de interpretação, um bom domínio da Língua Portuguesa, um grande sentido de oportunidade e doses de sensibilidade e de bom senso, num equilíbrio entre o respeito pelo realizador e o dever para com o receptor. A expressividade da AD do filme “Atrás das Nuvens” levou a que a interpretação em Língua Gestual Portuguesa se construísse a partir dessa solução e não tão-somente sobre as deixas das personagens, como normalmente acontece. Alexandra Ramos, a intérprete que deu vida ao filme para os muitos surdos que têm a LGP como a sua língua materna, afirmou ter optado por interpretar sobre o texto da AD, por esta trazer maior colorido e expressividade à sua “versão”. Mais uma vez, poder-se-ia colocar a questão do grau de liberdade que assiste aos técnicos que fornecem estes serviços. Os surdos que assistiram à projecção do filme em formato combinado questionaram estas diferenças. As legendas, compostas a partir das regras básicas da legendagem para surdos (cf. Neves, 2005), forneciam informação extra sobre os efeitos sonoros e a música com valor narrativo, identificavam falantes, mas centravam-se nas falas. Ao comparar a informação da interpretação gestual com aquela fornecida pelas legendas, eram óbvias as diferenças. A opção de inclusão da AD na interpretação em nome de uma maior expressividade colidia, aparentemente, com a necessidade de fornecer legendas de fácil leitura que tivessem em conta as reais necessidades de quem as iria ler. Estas comparações, apenas possíveis em situações forçadas, não serão práticas comuns entre os verdadeiros utilizadores das soluções de inclusão aqui descritas. A possibilidade de seleccionar ape nas aquela que é mais adequada às necessidades de cada um, garantindo o maior conforto é, em essência, a razão de ser desta aposta. Ter uma deficiência sensorial - surdez ou cegueira - significa ter um défice em um dos sentidos, mas pode significar também ter os outros sentidos muito mais apurados. Abrir o espaço comunicativo no respeito pela diferença resume-se, afinal, no apelo a todos os sentidos e, de modo especial, na exploração da riqueza inesgotável da(s) língua(s) e linguagem(ns) que se reinventam sempre que se concretizam de forma criativa. Notas: 1 O Nascimento de Cristo = The Nativity Story / realização de Catherine Hardwicke [2006]. Lusomundo, - 1 DVD (97 min.) 2 Atrás das Nuvens / realização de Jorge Queiroga [2007]. ZON/Lusomundo – 1 DVD (86 min.) 3 Títulos comercializados com interpretação gestual: O Quebra-nozes e o Rei dos Ratos = The Nutcracker and the Mouse King / realização de Michael Johnson e Tatjana Ilyina. [2004]. [Cruz Quebrada]: LNK Audiovisuais, - 1 DVD (82 min.) Valiant - Os Bravos do Pombal = Valiant / realização de Gary Chapman, [2005]. [registo vídeo LNK Audiovisuais, - 1 DVD (76 min.) Série Bob o Construtor = Bob the Builder / realização de Sarah Ball. [1998+]. [Cruz Quebrada]: LNK Audiovisuais. 5 títulos em DVD separados: Bob o contrutor: Buffalo Bob; Bob o Construtor: Cavaleiros para toda a obra; Bob o Construtor: o escavão salva o dia; Bob o Construtor: o maroto do pintas; Bob o construtor: o natal branco do Bob. Referências Bibliográficas: Jackobson, R. (2000). “On linguistic aspects of translation”. In Venuti, Lawrence (ed). The Translation Studies Reader. London and New York: Routledge, 113-118. Neves, J. (2005). Vozes que se Vêem - Guia de Legendagem para Surdos. Lei ria: Instituto Politécnico de Leiria & Universidade de Aveiro. Vivências e Experiências “A Outra Margem” Francisco Brás - Grupo Crinabel – Teatro Este artigo é o resultado da minha experiência como director do actor Tomás de Almeida durante a preparação e rodagem do filme “A Outra Margem”, de Luís Filipe Rocha. O actor Tomás de Almeida faz parte do colectivo de teatro do grupo Crinabel, sendo um dos mais jovens elementos a integrar este grupo. O Tomás, de 22 anos, tem trissomia 21 e possui grande destreza física, apesar de graves problemas de linguagem (articulação e vocabulário). Enquanto director artístico do grupo, fui procurado pelo Luís Filipe Recha, realizador do filme “A Outra Margem”, para encontrar um actor que se enquadras se nas características da personagem que o argumento pedia. Ocorreu-me de imediato, após uma primeira leitura, que seria o Tomás o actor indicado para o papel, uma vez que a sua alegria, brilho e expressividade cabiam perfeitamente na personagem idealizada por Luís Filipe Rocha. Todavia, havia um problema imediato: os diálogos. O Tomás não iria conseguir dizer todo o texto que estava fixado no argumento. Após um primeiro encontro com o realizador, creio que ocorreu uma “química” entre os dois e, não sendo um dado adquirido, fiquei logo com a sensação que o Tomás seria a primeira escolha do realizador. Assim foi! Uma vez encontrado o resto do elenco que iria integrar o filme, foi feita uma outra versão do argumento que tivesse em conta as dificuldades aparentes do Tomás. Deu-se início aos primeiros ensaios de leitura, com o apoio de um terapeuta da fala que detectou as possibilidades de melhoria de alguns sons ou palavras. Esta prática levou o realizador a reescrever o guião, tendo em conta um ritmo de ensaios quase diários. Os restantes actores mais directamente liga dos à personagem “Vasco”, interpretada pelo Tomás, foram chegando e ensaiando algumas cenas, no intuito de entender a relação que seria necessário criar entre todos. Destes ensaios nasceu a necessidade de readaptar o guião, tendo em conta a relação que se ia estabelecendo entre cada personagem e o próprio realizador. Este trabalho de pré-produção, fundamental para o início da rodagem, durou mais de três meses, tempo necessário também para o Tomás entender que iria entrar num ritmo de trabalho diferente, com uma responsabilidade maior do que aquela que até então tinha tido no teatro. Iniciámos a rodagem no dia 1 de Maio de 2006, em Amarante, com uma belíssima cena à beira rio, onde o Tomás tinha de comer um hambúrguer sentado num banco. O nervosismo era uma constante quer no realizador, na equipa técnica, nos actores, quer em mim próprio. Errar nesta fase do trabalho era absolutamente fatal para todo o projecto, bastava um olhar mal dirigido, uma hesitação num gesto, uma palavra fora do contexto e tudo se complicaria. O que ainda hoje acho extraordinário foi a forma como o Tomás interiorizou esta disciplina e a cumpriu até ao último dia de rodagem. As cenas foram-se sucedendo, os dias de acção eram apertados em termos de horários, havia manhãs, tardes, noites, conforme as planificações. Mudanças de decor, novas personagens, cenas interiores, cenas exteriores, textos para aprender, viagens entre Lisboa/ Amarante, mais tarde Camarate (longas noites) e finalmente Alentejo. Acompanhar o Tomás nesta aventura profissional foi, sem dúvida, uma prova de fogo para testar as possibilidades artísticas, a disciplina, o profissionalismo e a boa disposição que sempre pautaram os dias de rodagem. O clima de solidariedade que se gerou entre toda a equipa foi absolutamente fantástico. O Tomás era “apaparicado” por todos pelo simples facto que cumpria sempre com as suas obrigações profissionais sem o menor desânimo. O resultado final trouxe ao Tomás um prémio internacional de interpretação, ex-equo com o actor Filipe Duarte, também ele protagonista desta aventura e peça fundamental para o bom desempenho do co lega, o reconhecimento público por um trabalho digno e consistente que reafirma as possibilidades artísticas de alguns actores “diferentes”. Resta-me agradecer ao Luís Filipe Rocha por ter acreditado em mim e sobretudo no Tomás, pela seriedade e rigor do seu trabalho, aos actores do filme pela generosidade com que o aceitaram e finalmente à equipa técnica que revelou uma faceta humana, quase sempre desconhecida do público. Após esta experiência profissional, o actor Tomás Almeida integrou as produções teatrais do grupo Crinabel - Teatro, participou numa produção televisiva (novela) e segue o seu trajecto de actor na busca constante de fazer sempre mais e melhor. Na Diferença mora a Genialidade Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência A Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência1 (ANACED) foi funda da em Dezembro de 1988, no âmbito da realização do Terceiro Colóquio Europeu “Criatividade e Terapia”, organizado pela International Association for the Promotion of Equal Opportunities for People with Disabilities in the Areas of Art, Culture and Media (EUCREA) e pela Liga Portuguesa dos Deficientes Motores, em colaboração com a Comissão das Comunidades Europeias. A ANACED foi, então, criada com a finalidade de promover e divulgar as capacidades artísticas das pessoas com deficiência e todas as expressões de arte e criatividade que contribuam, directa ou indirectamente, para o seu desenvolvimento global. Desde Junho de 1999 que esta associação sem fins lucrativos se tornou numa Instituição Particular de Solidariedade Social, na prossecução dos seguintes objectivos específicos: - dinamizar a criação de condições de acessibilidade dos espaços culturais a populações com necessidades especiais; - promover a integração de candidatos com deficiência nas Escolas de Formação Artística e Cultural; - apoiar as iniciativas facilitadoras de intercâmbio dos artistas na Comunidade Europeia e Internacional; - desenvolver acções de formação dirigidas aos intervenientes nos espaços culturais e outros, de forma a melhorar o acolhimento desta população nesse meio cultural; - incentivar a mudança de atitudes e comportamental da sociedade em geral, das entidades oficiais e da comunidade artística e cultural face a estes artistas, através do reconhecimento do seu contributo para a arte e cultura nacionais. Com uma experiência de trabalho de 20 anos, a ANACED defende que a arte produzida por artistas com deficiência constitui sempre um contributo para o património cultural, tão válido como o de qualquer outro artista e a sua desvalorização é indicadora de preconceito ou irracionalidade presunçosa da crítica e de quem tem o poder de validar o que é ou não é arte. Nestes casos, a ANACED tem o dever de, por um lado, denunciar o preconceito e, por outro, dar visibilidade ao trabalho desses artistas. Paralelamente, esta associação defende que o património artístico e cultural deve ter subjacente a preocupação de proporcionar a acessibilidade das pessoas com deficiência ao conhecimento e às emoções e sugestões éticas e estéticas que fazem parte integrante do desenvolvimento de todos os indivíduos. Nestas situações, a ANACED não só informa e incentiva o conhecimento e contacto com esse património, como combate e alerta para as barreiras físicas, psicológicas e sociais que, frequentemente, constituem um obstáculo a esse conhecimento e contacto. O Homem é por natureza criativo. Sem criatividade não há sobrevivência, comunicação, nem identidade e, por isso, a criatividade é uma competência e um atributo que não só deve como tem de fazer parte integrante do processo de educação e reabilitação das pessoas com deficiência ou outras necessidades especiais. Nesta perspectiva, a ANACED apoia e promove todas as iniciativas que estimulem e desenvolvam a criatividade desta população. É também pela criatividade que cada um expressa a sua identidade e pode construir a originalidade da sua participação social. Por isso, a criatividade das pessoas com deficiência constitui-se como um meio principal de exercício dos seus deveres e de afirmação dos seus direitos de cidadania. Neste âmbito, esta associação cria e aproveita todas as oportunidades para valorizar as criações artísticas desta população, de forma a levar a sociedade a repensar as suas concepções sobre deficiência. É neste sentido que a ANACED tem tentado abrir caminhos e encontrar soluções para que os artistas com deficiência, tal como os outros, contribuam para enriquecer o património artístico da nossa sociedade. E com essa participação, elevem o nível de humanidade e grandeza da sociedade, na qual se espera que um dia todos venham a sentir-se respeitados e reconhecidos nas suas diferenças! Nota: 1 Morada: Rua do Sítio ao Casalinho da Ajuda 1349-011 Lisboa Tel: 213616910 Fax: 213648639 Página Web: http://www.anaced.org.pt E-mail: anaced@net.sapo.pt Testemunho Arte: Reflexos de uma Vida Filipe Jorge da Silva é um jovem de 26 anos, natural do Funchal, que nasceu com Trissomia 21. Em criança frequentou a escola dos Ilhéus, e posteriormente, a escola da Piedade, onde foi apoiado pelo, já extinto, Centro de Apoio Psicopedagógico (CAP) do Monte e, mais tarde, pelo CAP Funchal, da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação. Seguidamente, foi para o Centro de Formação Profissional de Deficientes, o actual Serviço Técnico de Integração e Formação Profissional e Emprego Protegido de Deficientes, onde se formou na área de Encadernação. Actualmente, encontra-se a desenvolver actividades ocupacionais nesta área no Centro de Actividades Ocupacionais do Funchal - Santo António. Este jovem tem consciência da sua condição, no entanto refere com franqueza que existem pessoas em situações mais graves, as quais procura ajudar, contribuindo, assim, para um mundo melhor. Os seus grandes valores passam pelo respeito, pois considera necessário saber estar na sociedade, procurando compreender, ouvir e prestar apoio às pessoas com deficiência. De entre os vários hobbies, a ginástica e a natação são para ele um bem essencial que alimenta o corpo e a mente, contudo, salienta a importância que o teatro, a dança e a música têm na sua vida. A sua paixão pela arte e o sucesso no teatro deve-os ao seu grande amigo Professor Eleutério Aguiar, a quem, em homenagem, dedica o reconhecimento do seu trabalho. Com emoção, Jorge Filipe relembra o antigo desejo do seu avô em ter um actor na família e o sonho que tinha em ver o seu neto bem encaminhado na vida. No ano lectivo 2001/2002, num ambiente de descoberta, trabalho, dedicação, diversão e aprendizagem, o jovem actor iniciou, no Grupo de Mímica e Teatro Oficina Versus, a sua caminhada pelo mundo da arte inclusiva. Desde então, já desempenhou diversos papéis em inúmeras peças teatrais, tais como “A Canção do Realejo”, de Ester Vieira, “O Mar”, de Miguel Torga, “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, de Jorge Amado, “A Dama Pé de Cabra”, de Alexandre Herculano, “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner, “Galileu Galilei”, de Bertolt Brecht”, peça que elege como sua favorita. Neste momento, afirma que está satisfeito com a quantidade e qualidade dos trabalhos realizados e partilhados com a comunidade. Nos ensaios, que decorrem quatro vezes por sema na, bem como nas actuações, as suas principais dificuldades prendem-se com a orientação e a concentração, não obstante, argumenta que não é por falta de estudo, mas sim de concentração mental. Na generalidade, considera que tem um bom desempenho “corre sempre bem, do princípio até ao fim”. Filipe Jorge refere que gosta de confraternizar com pessoas mais experientes, pois trata-se de uma forma de aprendizagem, salientando a importância do respeito mútuo, essencial para um bom relacionamento. O jovem recorda alegremente o dia em que foi à RTP Madeira participar no programa “Lado Lado”, onde foi bastante elogiado e considerado um grande actor. A par desta sua aptidão para o teatro, coexiste o gosto pela leitura e a criatividade na escrita, através das quais redigiu inúmeros poemas versando temáticas diversificadas, bem como trabalhos em prosa, que já foram objecto de algumas exposições. Metaforicamente, considera a Ilha da Madeira a sua “namorada”, pela qual demonstra ter uma grande admiração e onde vive intensamente os sabores do dia-a-dia, desde o saborear de um café, o cantar do galo, o voar dos pássaros, sentidos que todos reunidos se transformam numa linda melodia que adoça a vida. Filipe Jorge deixa a sua mensagem a todos os jovens para que aproveitem as oportunidades que a vida proporciona e se o caminho a seguir for o da arte, este tornar-se-á ainda mais vivido e alegre. Aconselha ainda a todos que “saltem” as barreiras do medo e entrem no mundo da representação, pois o teatro “é uma preciosidade e todos os dias representamos”. Espaço ‘‘Beleza e Muito Mais... João Henrique Silva - Direcção Regional dos Assuntos Culturais Gostaria de escrever umas palavras sobre Grotox, naturalmente sem pretensões de crítica especializada, antes como testemunho de alguém que gostou do que viu - um espectáculo a vários títulos belo e invulgar, que torna quase “carnal” aquela experiência do… primeiro estranha-se, depois entranha-se! A estranheza começa no título, a sugerir algo entre o grotesco e o botox, nas palavras de Henrique Amoedo, coreógrafo que assina aqui uma criação muito forte e inovadora, mas inteiramente superada, face ao percurso e aos desafios do “Dançando com a Diferença”. Mas, até pelo título já se começa a dizer essa impossível utopia do kitsch (pelo menos no sen tido kunderiano), tão caro a uma certa cultura contemporânea, que é aquela impressão de harmonia que se instala pela mistura artificial de elementos díspares. À primeira vista, Grotox atira-nos de chofre com essa acerada dualidade: o apolíneo e o defeituoso, o encantador e o horrendo, o simétrico e o disforme, o maravilhoso e o repulsivo - o botox quer harmonizar e salvar o grotesco! Mas, à medida que o espectáculo ganha corpo e a música, a cor e a dança nos cativam para uma experiência singular de beleza, aqui materializa da no diálogo das artes em palco e na extraordinária coreografia da narrativa, vamos alcançando aquela dimensão de unidade, amor, sentido e beleza que só uma grande obra de arte proporciona. Há palavras a invocar para falarmos de Grotox, como inovação, transdisciplinaridade, novas tecnologias, experimentação, mas também coragem, disciplina, partilha, integridade e esperança. Todavia, o que liga tudo isso chama-se arte, sentido da estética, pro funda unidade da obra artística. Porque é também por aqui que este espectáculo se faz e nos conquista, pelo arrojo e sabedoria de integrar a diferença. E contra a formatação do nosso olhar, a ousadia de proclamar o direito, a igualdade, a integração, a harmonia. Claro que a verdade mais profunda de tudo isto é, ainda e sempre, antropológica - o corpo, a gestualidade, o teatro e a dança, a música, o grito, os afectos, a cor e o som, o onírico e a fealdade do mundo - está lá tudo, mas é o corpo enquanto humanum, raiz da vida e afirmação do espírito, que se constitui aqui em lugar de verdade e de inteireza, lugar de resistência e de acesso, lugar de metamorfose e de redenção. E, nessa base, o corpo, sempre igual e sempre diferente, é também a recusa e a superação do kitsch instalado sob múltiplos disfarces… Digamo-lo com todas as letras: Grotox é um espectáculo de enorme dignidade e beleza, um excelente “embaixador cultural” em qualquer capital europeia. Bem-hajam todos aqueles que o conceberam e fizeram, sobretudo pelo que aí nos ensinam quanto à sabedoria da diferença e à alegria de ser! Espaço Psi Necessidades Especiais: Impacto na Família Luísa Cabral - Centro de Apoio Psicopedagógico do Funchal Queria que fosses rapaz Queria que tivesses olhos azuis Queria que fosses saudável Assim, por esta ordem de ideias… Durante muito tempo senti-me tão culpada por ter desejado que fosses um menino de olhos azuis como os meus, preterindo nesse desejar a tua saúde…porquê? Martins, A. (2006)1 A condição de vulnerabilidade da criança com deficiência ou em risco de desenvolvimento atípico poderá potenciar um aumento nos níveis de stress parentais e familiares e implicar um esforço suplementar em termos de adaptação e organização do sistema familiar (Coutinho, 2003). As reacções mais comuns apresentadas pelas famílias após o momento do diagnóstico são uma combinação de choque, descrença, culpa e de um forte sentimento de perda. Em geral, no processo de adaptação e vinculação ao bebé com deficiência refere-se o processo de luto constituído pelas seguintes fases: choque, negação, depressão e aceitação. De salientar que estas fases não são inevitáveis ou uniformes, ou seja, não são fixas, nem no tempo, nem na ordem em que foram apresentadas e que, ainda, podem aparecer combinadas ou omitidas (Albuquerque, 1996; Pimentel, 1999). Na realidade, este processo depende de vários factores. A adaptação e o funcionamento destas famílias estão relacionados, não só com a gravidade da deficiência e grau de dependência da criança, como também com a coesão, expressividade e harmonia familiar. O estilo interactivo nestas famílias parece ser influenciado pelas características da criança, da família, bem como pelos factores extra familiares, como as redes de suporte e apoio social (Albuquerque, 1996; Pimentel, 1999). Relativamente às características das crianças, estudos demonstram que a etiologia da deficiência influencia o processo de adaptação, na medida em que as mães de bebés com etiologia desconhecida experimentam maior stress do que as mães de bebés com Síndrome de Down (Hodapp cit. por Pimentel, 1999). A investigação revela, também, que a natureza e/ou a frequência de cuidados básicos requeridos pela criança ou a presença de problemas de comportamento influencia as reacções da família. Para além das características da criança, as dos membros da família, individualmente considerados, podem também estar associadas ao nível de stress experimentado. Outros estudos demonstram, ainda, que as famílias bem adaptadas à deficiência se distinguem das que têm uma adaptação “problemática” ou disfuncional, por denotarem uma forte aliança parental, divisão de responsabilidades e comunicação de valores e sentimentos pessoais (Albuquerque, 1996). Relativamente aos factores extra familiares, existe evidência que o apoio social influencia, de forma directa e indirecta, vários aspectos do funcionamento parental e familiar, incluindo a sua adaptação ao stress. Para além da reacção inicial e do processo de adaptação ao diagnóstico de deficiência, é necessário considerar o ciclo de vida da família. Desta forma, torna-se essencial considerar alguns factores de stress (Howard et al, 2001, cit. por Craveirinha, 2003): 1. factores agudos que estão relacionados com incidentes periódicos associados à deficiência da criança; 2. factores crónicos que incluem as preocupações com o futuro, limitações financeiras, aceitação das diferenças dos indivíduos pela sociedade; 3. factores de transição que aparecem em alturas significativas (factores que surgem na transição entre os diversos estádios do ciclo vital). Relativamente aos últimos, podemos considerar várias fases que implicam momentos específicos de crise (Sousa, 1998): Nascimento/Diagnóstico - implica tarefas como o reajustamento das expectativas, identificação com o filho, localização de serviços de apoio, entre outras. Entrada para a escola - inclui momentos específicos de crise como programas de desenvolvimento a realizar pelos pais, alterações do plano escolar implicando tarefas como a colaboração e a partilha de decisões com os técnicos. Adolescência dos filhos - as famílias começam a lidar com questões relacionadas com a sexualidade e a aceitação do crescimento dos seus filhos. Ao questionarem “Quem cuidará da criança em adulta?”, apercebem-se da dependência do filho. Assim, entre outras tarefas a realizar, têm de considerar a formação profissional e/ou programas ocupacionais. Implicações para a Prática A intervenção precoce é especialmente importante para estas crianças e respectivas famílias e útil na prevenção da ocorrência ou na minimização de problemas associados. Esta intervenção surge como uma forma eficaz de prestar ajuda à criança e à família, sendo de salientar que quanto mais cedo se iniciar o apoio, e mais abrangente e integrado for o modelo de atendimento, maiores serão os benefícios para os intervenientes (Coutinho, 2003). Os profissionais envolvidos na prestação de serviços de intervenção precoce aceitaram há muito que o seu objectivo é apoiar, não só o desenvolvimento das crianças, mas também as suas famílias, na medida em que estas têm a responsabilidade última pela prestação de cuidados e pela promoção do desenvolvimento e qualidade de vida da criança. Por isso, a família deve ser considerada a unidade principal de prestação de serviços (Bruder, 2001). Os programas com uma abordagem centrada na família promovem o sentido de comunidade, mobilizam recursos e apoios, protegem a integridade e fortalecem o funcionamento da família, existindo uma responsabilidade partilhada, colaboração e práticas proactivas (Dunst, Johnson, Trivette & Hamby, 1991). O enfoque da intervenção é a construção de interdependências entre os membros da comunidade e a unidade familiar. Os recursos e apoios devem estar disponíveis para as famílias de forma flexível e individualizada, de acordo com as suas prioridades e estas devem ser activamente envolvidas no processo de tomada de decisão. Bailey e Powell (2005) argumentam que ajudar as famílias a ter acesso a informação é uma componente importante da abordagem centrada na família. A informação tem o potencial de modificar as dinâmicas do poder, de forma que o processo de tomada de decisão se baseie o mais possível em opções lógicas, informadas e racionais que envolvem participantes bem informados, por oposição a um processo no qual o poder se baseia em quem detém os recursos ou o direito para assinar um documento. Neste contexto, Coutinho (2003) salienta a importância de se apostar na formação de pais como uma das componentes dos serviços prestados no âmbito da intervenção precoce. Os programas de formação ou de treino de competências parentais constituem excelentes oportunidades para melhorar os níveis de informação, bem como as competências educativas parentais. Existe ainda outro aspecto particularmente relevante na concepção de serviços ou programas para pais, que se refere à criação de oportunidades para encontros de pais de crianças com a mesma problemática. Este tipo de encontros permite aumentar as redes de apoio social informais que oferecem apoio emocional e/ou informativo. Os estudos revelam que estes pro gramas promovem a aceitação dos pais, bem como a percepção de auto-eficácia em lidar com a situação (Santelli, Turnbull, Marquis & Lerner, 2000). Nota: 1 Ana Martins é mãe de um jovem com autismo. É sócia da APPDA - Lisboa, da APSA e delegada da Federação Nacional de Autismo da APPDA - Lisboa. Bibliografia: Albuquerque, M.C. (1996). A Criança com Deficiência Mental Ligeira. Dissertação de Doutoramento. Coimbra: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Bailey, D. B. & Powell, T. (2005). Assessing the information needs of families in early intervention. In M. J. Guralnick (Ed.). The Developmental Systems Approach to Early Intervention (pp.151-184) Baltimore: Paul H. Brookes Publishing Company. Bruder, M. B. (2001). Family-centered early intervention: Clarifying our values for the new millennium. Topics in Early Childhood Special Education, 20, 105-115. Craveirinha, F. (2003). Redes de Apoio Social em Intervenção Precoce, disponibilidade, utilidade e necessidades. Dissertação de mestrado não publicada. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa. Coutinho, M.T. B. (2003). Formação Parental: Avaliação do Impacto na Família. Psicologia, XVII (1), 227-244. Dunst, C.J., Johnson, C., Trivette, C.M. & Hamby, D. (1991) Familiy-oriented ear ly intervention policies and practices: family centered or not? Excepcional Children, 58, 115-126. Martins, A. (2006). Autista, quem…? Eu? Lisboa: LIVROSeLIVROS. Pimentel, J. S. (1999). Um Bebé Diferente. Lisboa: Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. Santelli, B., Turnbull, A., Marquis, J. & Lerner, E. (2000). Statewide parent-to parent programs: partners in early intervention. Infants and Young Children, 13(1), 74-88. Legislação Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio Face à necessidade de dar cumprimento à Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto e ao I Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiência ou Incapacidade, o Governo considerou necessário proceder a uma reformulação do sistema de ajudas técnicas e tecnologias de apoio, em vigor. Assim, o Decreto-Lei n.º 93/2009, de 16 de Abril, visa criar de forma pioneira e inovadora o enquadra mento específico para o Sistema de Atribuição de Pro dutos de Apoio (SAPA) que vem substituir o sistema supletivo de ajudas técnicas e tecnologias de apoio, designadas ora em diante por Produtos de Apoio, nos termos da nomenclatura utilizada na Norma ISO 9999:2007. Estes produtos são imprescindíveis para o desenvolvimento dos programas de habilitação, reabilitação e participação das pessoas com deficiência e, ainda, das pessoas que por uma incapacidade temporária necessitem de produtos de apoio. Desta forma, constituem objectivos do SAPA a realização de uma política global, integrada e transversal de resposta a esta população de forma a compensar e atenuar as limitações de actividade e restrições de participação decorrentes da deficiência ou incapacidade temporária através, designadamente, da atribuição de forma gratuita e universal de produtos de apoio - qualquer produto, instrumento, equipamento ou sistema técnico usado por uma pessoa com deficiência, especialmente produzido ou disponível que previne, compensa, atenua ou neutraliza a limitação funcional ou de participação. Este sistema possibilita, igualmente, a gestão eficaz da sua atribuição mediante a simplificação de procedimentos exigidos pelas entidades e a implementação de um sistema informático centralizado, bem como o financiamento simplificado dos produtos de apoio. As entidades que compõem o SAPA encontram-se interligadas por um sistema informático centralizado, cuja gestão compete ao Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P. (INR, I. P.), de modo a garantir a eficácia, a operacionalidade e eficiência dos seus mecanismos e a sua aplicação criteriosa e, por outro lado, a desburocratização do sistema actual ao simplificar as formalidades exigidas pelos serviços prescritores e ao criar uma base de dados de registo de pedidos com vista ao controlo dos mesmos, por forma a evitar, nomeada mente, a duplicação de financiamento ao utente. Com vista ao financiamento dos produtos de apoio, as entidades devem obrigatoriamente preencher uma ficha de prescrição disponível on-line, incluída no sistema informático centralizado. Relativamente às verbas destinadas ao financiamento dos produtos de apoio abrangidos pelo presente Decreto-Lei, estas são geridas autonomamente por cada entidade financiadora e disponibilizadas por vários organismos, a saber: a Administração Central do Sistema de Saúde, I.P., as unidades hospitalares e outras entidades prescritoras, os centros distritais da Segurança Social, através do Instituto da Segurança Social, I.P., os centros de saúde, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P. e a Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Nestes contextos, a comparticipação dos produtos de apoio é de 100%, salvo nas unidades hospitalares e noutras entidades prescritoras da área da saúde, onde os produtos de apoio são directamente fornecidos aos utentes, não havendo lugar a comparticipação através de reembolso. Quando o produto de apoio constar nas tabelas de reembolsos do Serviço Nacional de Saúde, do sub-sistema de saúde, ou ainda quando é comparticipa do por empresas de seguros, a comparticipação é do montante correspondente à diferença entre o custo do produto de apoio e o valor suportado pelas entidades referidas. Este Decreto-Lei visa, ainda, no âmbito do Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa, criar as condições necessárias à implementação das medi das SIMPLEX2008 números M099 e M100. O presente Decreto-Lei entra em vigor 90 dias após a sua publicação. Livros O Gato Gatão, Poeta de Profissão Autora: Graça Breia Colecção: 4 Leituras Editora: CERCICA Ano: 2009 De uma maneira alegre e bem-disposta, a história do Gato Gatão pretende dar a conhecer a vida de um gato poeta que nos apresenta a sua companheira, a Ruivinha, e descreve a aldeia onde vive. Nesta aldeia, o Gato Gatão é feliz e encontra motivos de inspiração para a sua poesia. Este livro infantil, que faz parte da lista recomendada pelo Plano Nacional de Leitura, é um livro acessível a todos. Como tal, integra um DVD interactivo com a história narrada em Língua Gestual Portuguesa, em versão áudio, em Símbolos Pictográficos para a Comunicação e em formato daisy (leitura fácil). Existe, igualmente, uma versão impressa em Braille. Esta obra apresenta-se como um instrumento de interesse pedagógico, permitindo às crianças com necessidades educativas especiais ter acesso ao prazer da leitura e ao mundo mágico do conhecimento, quaisquer que sejam as suas capacidades individuais de leitura. O Mundo da Criança com Autismo Autora: Bryna Siegel Colecção: Referência Editora: Porto Editora Ano: 2008 O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que afecta múltiplos aspectos da forma como uma criança vê o mundo e aprende a partir das suas próprias experiências. O livro é um recurso que pretende apoiar quer as crianças, quer as suas famílias e outros profissionais, que têm de enfrentar o sofrimento e confusão subsequentes ao diagnóstico de autismo ou de outras perturbações do espectro autista. Este livro aborda questões que se prendem com a compreensão do diagnóstico de autismo, com os tratamentos disponíveis e com a forma de decidir o que é melhor ou mais adequado para uma dada criança com autismo ou com perturbação global do desenvolvimento. Uma Vida Normal Autor: Paulo Azevedo Editora: Porto Editora Ano: 2009 Escrito na primeira pessoa, este livro aborda as várias etapas da vida de Paulo Azevedo, desde o nascimento até à actualidade. Ainda adolescente, e após uma gravidez de oito meses, a sua mãe Clara via-se com um fi lho diferente nos braços, sem mãos e sem pernas. O choque que sofreu foi tremendo. Mas, a fé, a coragem e a de terminação foram maiores. As primeiras pernas (próteses), a ida para a escola e, mais tarde, para a faculdade, a vida familiar e as demais relações humanas são algumas das componentes deste relato. Assim, com a família que sempre o protegeu, Paulo aprendeu a aceitar-se e a lutar para ser uma pessoa autónoma e independente. E por isso, hoje em dia tem uma vida normal. A obra termina com o vencer de mais uma barreira: a sua carreira de actor ao integrar o elenco de uma novela portuguesa, concretizando desta forma mais um sonho. Espaço TIC Sistema Integrado para a Comunicação Aumentativa (SICAM) O SICAM é uma ajuda que integra a comunicação através da fala (sintetizada ou gravada) ou da escrita (texto ou símbolos) e o acesso a várias aplicações do sistema operativo e que pode ser facilmente transportada, apoiada sobre uma mesa ou montada numa cadeira de rodas. Os sistemas móveis para a comunicação aumentativa são baseados em dispositivos como UMPC’s ou PDA’s, permitindo que pessoas com disfunções comunicativas possam comunicar de forma autónoma. O SICAM pode incluir software de ajuda para a comunicação: Speaking Dynamically ou a pré-instalação do PT Minha Voz - GRID. O dispositivo possibilita, também, ligação à internet ou outro tipo de redes. Comercialização: Anditec, Tecnologias de Reabilitação, Lda. - Alameda Roentgen, 9 C - 1600-757 Lisboa - Tel: 217 110 170 Fax: 217 110 179 - E-mail: anditec@mail.telepac.pt - Página Web http://www.anditec.pt Vamos Escrever Vamos Escrever é um software livre desenvolvido pela Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), do Ministério da Educação, com a finalidade de promover a escrita interactiva no ensino básico. Esta aplicação contempla um conjunto de cinco actividades: oficina de textos, contar uma história com imagens, fazer uma revista, jogos de palavras e escrever uma peça de teatro. O programa disponibiliza o material necessário à construção das actividades, sendo da responsabilidade do utilizador criar palavras e frases que darão origem às suas próprias histórias, revistas, peças ou poemas. Vamos Escrever é um software livre que pode ser acedido no sítio http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/DispForm.aspx?ID=48&RootFolder=%2Frecursos%2FLists%2FRepositrio%20Recursos2%2FMultim%C3%A9dia%2FEnsino%20B%C3%A1sico Mapa de Ideias Mapa de Ideias é um software multilingue, intuitivo e de simples utilização que tem como objectivo ajudar a criar um espaço para organizar e estruturar o pensamento, permitindo a ligação entre documentos, páginas web e gráficos, de forma a dar uma visão geral de um assunto ou tema. Possibilita, igualmente, a apresentação de ideias numa perspectiva tridimensional utilizando tecnologia 3D, rodando e inclinando a visão do mapa. Posteriormente, transforma o Mapa de Ideias em documentos, apresentações ou páginas web, agilizando assim a estruturação e produção de documentos. Comercialização: Cnotinfor - Urbanização Panorama, lote 2, loja 2 - Monte Formoso - 3000-446 Coimbra - Tel: 239 499 230 - Fax: 239 499 239 - E-mail: info@cnotinfor.pt - Página Web: http://www.cnotinfor.pt Vamos Construir Vamos Construir é um programa simples concebido para desenvolver capacidades de discriminação visual e propício para pessoas que estejam a iniciar o treino de utilização de manípulos. Este software contém várias actividades de causa-efeito, com níveis diferentes de dificuldade. As actividades do software contêm muitas cores e diversas músicas, podendo as mesmas serem acedidas através de um ecrã táctil, um rato ou outro dispositivo apontador, um ou dois manípulos, um teclado de conceitos ou um microfone (a funcionar como manípulo de som). Comercialização: Anditec, Tecnologias de Reabilitação, Lda. - Alameda Roentgen, 9 C - 1600-757 Lisboa - Tel: 217 110 170 Fax: 217 110 179 - E-mail: anditec@mail.telepac.pt - Página Web http://www.anditec.pt Notícias DREER: Um Percurso de Inclusão Maria José Camacho - Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação A convite do ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração), instituição que, ampliando a sua oferta formativa, se lançou no domínio da educação especial, através de cursos de especialização que, conjugando o regime presencial com o e-Learning, têm permitido a muitos docentes obter habilitação para o exercício de funções na educação especial, apresentei em Baião e Aveiro o percurso da Educação Especial na Região Autónoma da Madeira (RAM). Ainda na Região, morta de curiosidade acerca do primeiro local (o menos conhecido) no qual iria ter lugar a primeira palestra - Baião - lá fiz algumas incursões pela internet na tentativa de me “ambientar” e quiçá de me ajudar a vencer aquele desassossego inquietante que me invade sempre que a obrigatoriedade de preparar algo para comunicar se impõe: o que dizer? Como dizer? Por onde começar? Que caminho escolher? Envolta nestas interrogações, a par dos elogios à paisagem, aos costumes e gastronomia, encontrei-me com alguns nomes sonantes da literatura Portuguesa nascidos ou ligados a Baião: Eça de Queirós, António Mota, Soeiro Pereira Gomes… Foi deste modo que, num sobressalto de encanto e surpresa, me senti regressar aos bancos do Liceu Jaime Moniz, sobretudo, na evocação dos “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes, conduzida pelo comentário de Urbano Tavares Rodrigues: (...) Soeiro escreveu amorosamente Esteiros. À janela da vida, debruçando-se sobre as adolescências pobres e tendo já entrado quantas vezes nas casas da miséria e da marginalidade, pode imaginar sem esforço, ou mesmo copiar do real, amalgamando-as e transformando-as, personagens tão ricas e diversas como as do João Gaitinhas, do Maquineta, do Malesso, do Cocas, do Sagui, do violento Gineto, representação da pura e nua rebeldia (...) A apetência de Soeiro para aflorar o onírico e o poético, paralelamente à crua representação das injustiças sociais e à análise das infra-estruturas económicas (a exploração dos fracos pelos fortes, a devoração das pequenas e médias empresas pela grande fábrica), essa vontade de penetrar no mais fundo e no menos claro dos seres humanos e também a difusa vontade da beleza que a palavra surpreende e recria, tão patente nas rápidas descrições da natureza e das estações do ano, conferem-lhe um lugar muito especial no areópago neo-realista - o de um fiel seguidor dos princípios da escola - ao mesmo tempo com sensibilidade estética, próxima da escrita poética. Mas é sobretudo nas situações, no arranjo dos quadros familiares, na expressão do sofrimento humano e na permanente vontade de sonho que se entremostra o poeta que há em Soeiro Pereira Gomes. E, de repente, o tema a abordar: “A Região Autónoma da Madeira no Trilho da Inclusão” foi iluminado pela ilustre obra de Soeiro naquilo que o seu autor apresentava de sensibilidade, de sonho e de luta constantes na procura de uma vida dignificante para crianças desfavorecidas através do acesso à escola e da defesa de causas e ideais respeitadores das diferenças. Das duas conferências proferidas fica o registo do acolhimento e do impacto positivo, expresso pelos participantes, face ao modelo de intervenção que a Região Autónoma da Madeira tem desenvolvido desde a década de 60. Dança e Música unidas pela Arte Inclusiva Henrique Amoedo - Associação dos Amigos da Arte Inclusiva - Dançando com a Diferença Revista Diversidades Grotox foi o título encontrado para a última produção do grupo de dança inclusiva Dançando com a Diferença que, no passado dia 9 de Abril, estreou esta criação no festival “Ao Alcance de Todos - Músicas, Novas Tecnologias e Necessidades Especiais”, com reposição no Centro das Artes Casa das Mudas na Calheta, nos dias 1 e 2 de Maio. Nesta criação proposta pelo Serviço Educativo da Casa da Música do Porto, juntaram-se os madeirenses da dança inclusiva, alguns músicos do Factor E e outros convidados apenas para este projecto, além dos 5.ª Punkada - da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) - o desenho de vídeo de Paulo Américo, as fotografias com tratamento digital dos DDiarte e o desenho de luz e figurinos de Maurício Freitas. Sara Anjo, responsável pelo acompanhamento dramatúrgico, durante a criação de Grotox, apresenta a criação dizendo que: “Grotox é... dizem também ser admirar o apolíneo agradável e o atraído brilhante, educado pelo delicado e pelo deslumbre do encanto escultural, que deu origem ao etéreo que é formoso e gracioso e faz o harmónico harmonioso, fi lho do magnífico e da perfeita maravilha que alcançou a simetria do soberbo sublimado. Dizem ainda ter o desajuste abominável do asqueroso disforme vindo do defeituoso, fi lho do desajeitado, irmão do desagradável, desfigurado e amaldiçoado, que levou o estropício à desproporção assimétrica do fétido, gerado pelo horrendo horripilante e ainda pelo hórrido horrível resultante da repulsa sórdida do odioso.” Para a criação de Grotox, Henrique Amoedo participou em três residências (em Janeiro, Fevereiro e Março de 2009) com Paulo Américo (desenho de vídeo), os músicos do Factor E e os 5.ª Punkada, na Casa da Música, sob a direcção musical de Paulo Rodrigues. Para este último, director musical de Grotox e também director do Serviço Educativo da Casa da Música, “a música de Grotox resulta de várias residências criativas em que se explorou a fusão de repertórios mu sicais e de capacidades expressivas do grupo muito diverso que constitui a base musical do projecto. Esse “vocabulário comum” foi sendo moldado para suportar as ideias conceptuais do projecto que iam também nascendo e a música é, assim, uma espécie de amálgama de sonoridades que vai do barroco ao funk e blues através de orquestrações inusitadas onde predomina a electrónica e um conjunto de meios tecno lógicos que permitem a expressão musical ao alcance de todos”. Henrique Amoedo refere, por sua vez, que “Grotox é uma obra muito teatral, no repertório do Grupo Dançando com a Diferença. Pretende-se contar uma história, que talvez não tenha uma leitura linear por par te do público, mas vários dos estereótipos da nossa sociedade estão ali representados”. Acrescenta ainda que “foi um grande desafio a nossa participação neste projecto proposto pelo Serviço Educativo da Casa da Música. A criação das partes ocorreu em diferentes locais, nomeadamente na Madeira e na Casa da Música e a união das mesmas só aconteceu na semana anterior à estreia, de forma muito planeada e anterior mente pensada. Foi muito aliciante pensar no desenvolvimento dessas partes procurando sempre manter um fi o condutor e de ligação entre elas, para no último momento unirmos a música, a dança e a projecção de imagens e perceber que tudo resultava muito bem”. Grotox é, na realidade, uma brincadeira à volta dos freaks, relacionada com a imagem que a sociedade tem das pessoas com deficiência. Na sua essência, este espectáculo reflecte o pós-guerra dos anos 40, através da união de diferentes linguagens, nomeada mente vídeos, músicas, projecção de imagens e fotografias. Esta conjugação revelou-se difícil e delicada atendendo ao elevado número de recursos humanos - 21 pessoas em cena - e à diversidade de materiais envolvidos. Para a realização desta criação, como referido anteriormente, juntaram-se os Factor E e os 5.ª Punkada da APCC, um grupo inclusivo que se dedica à criação de música e que nesta ocasião se apresentou com os seus cinco elementos (teclado - Fátima Pinho e Fausto Sousa; soundbeam Ricardo Sousa; bateria e outros instrumentos Márcio Reis e Paulo Jacob). O simbolismo do número 5 deve-se ao facto de se rem cinco elementos e de uma das valências da APCC estar sediada na Quinta da Conraria. Punkada, por outro lado, tenta brincar com a palavra pancada, frequen temente associada ao conceito de paralisia cerebral e inclusive com o próprio movimento Punk. Paulo Jacob, musicoterapeuta, revela que o projecto 5.ª Punkada existe há sensivelmente 16 anos e nasceu da necessidade de alguns elementos quere rem fazer algo com a melodia, do desejo de concretizar esse sonho através da música. Assim, usufruir dos seus prazeres através da sua execução é um dos seus grandes objectivos. Os 5.ª Punkada são, essencialmente, um grupo pop-rock que utiliza instrumentos convencionais, na tentativa de abarcar todo o espectro estilístico de géneros musicais, desde blues, pop, rock, funk, entre outros, e que integra maioritariamente pessoas com paralisia cerebral e com outro tipo de problemáticas, como a deficiência intelectual. Com duas edições próprias, este grupo considera o convívio com as pessoas fundamental, pois desta forma tem possibilidade de apresentar o trabalho produzido e obter algum feedback. É através deste princípio de partilha que se consegue mudar algumas mentalidades, sendo a música um meio facilitador para esse propósito. A ideia de se juntar a esta dança inclusiva e de participar neste espectáculo partiu dum convite que foi feito pela Casa da Música e cuja estreia superou todas as expectativas, com casa cheia. Uma encenação bem trabalhada, onde uma série de resiliências ajudaram a desenvolver todo o processo criativo, que se desenrolou de uma forma muito natural, de acordo com Paulo Jacob. Após a estreia absoluta de Grotox no Porto, o Grupo Dançando com a Diferença já foi convidado por alguns programadores para apresentar o espectáculo no estrangeiro, mais concretamente em França, na Alemanha e no Canadá. Questionado sobre esta questão, Henrique Amoedo afirma ser extremamente complicado, dada a dificuldade de transportar uma produção tão grande. Não obstante, afirma que o futuro é incerto, mas que vão fazer de tudo para o conseguir porque acredita que todos devem estar implicados no processo de mudança da imagem social das pessoas com deficiência e Grotox, ao trazer para a cena vários dos estereótipos a eles associados, também pode contribuir para esta mudança. Se, por um lado, as pessoas com deficiência têm que se preparar para assumir os mais diferentes papéis na sociedade, por outro, esta também deve estar apta a recebê-las, construindo-se desta maneira uma verdadeira sociedade inclusiva. O Grupo Dançando com a Diferença está a fazer a sua parte neste processo. A outra cabe aos diferentes sectores envolvidos na produção de espectáculos e também ao público. Não interessa evidenciar a diferença desses indivíduos, muitas vezes retrata dos como “heróis” ou “coitadinhos”, pois tais imagens podem deixar um tanto quanto turvas as questões de fundo que verdadeiramente podem ser trazidas à cena pelo universo artístico e que, sem sombra de dúvidas, contribuem em muito para a consciencialização de que a questão do convívio entre as diferenças exige a responsabilidade de todos. Concurso Escola Alerta Revista Diversidades A 6.ª edição do Concurso “Escola Alerta”, sob o lema “acessibilidade a todos”, teve uma adesão louvável, com a apresentação de 185 trabalhos, que envolveram mais de 3680 alunos e 430 docentes. A nível regional, numa cerimónia que decorreu no passado dia 22 de Abril, as escolas vencedoras do 1.º prémio, nas respectivas categorias, foram a Escola Básica do 1.º Ciclo com Pré-Escolar (EB1/PE) da Boa ventura e a Escola Profissional Atlântico. As restantes escolas participantes foram distinguidas com um pré mio simbólico, de forma a reforçar e enfatizar a importância da aposta e continuidade deste projecto. A nível nacional foram distinguidas 6 escolas, entre elas a EB1/PE da Boaventura que foi galardoada com uma merecida menção honrosa, pelo seu extraordinário trabalho que se destacou pelo rigor, criatividade, apresentação de soluções e elevada participação da comunidade educativa. Mistura de Fibras, Cores e Expressões Ana Teixeira e Carla Miranda - Centro de Actividades Ocupacionais do Funchal - Santo António Ester Vieira - Núcleo de Inclusão pela Arte O Concurso “Em SI Artístico” foi inspirado no Ano Europeu da Criatividade e Inovação e no Ano Internacional das Fibras Naturais. Destinado aos alunos do 2.º e 3.º Ciclos, Secundário e Educação Especial, o concurso decorreu entre Fevereiro e Maio, numa iniciativa do Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) do Funchal - Santo António, em parceria com o Núcleo de Inclusão pela Arte. Este projecto assentou na valorização do processo criativo, tendo por base o conhecimento experimental dos diversos materiais de expressão plástica, nos campos bidimensional e tridimensional. Do concurso, resultou a exposição “Em SI Artístico”, integrada no Programa da 17.ª Edição dos Jogos Especiais, patente na Galeria do Museu Casa da Luz, de 27 de Maio a 6 de Junho e, posteriormente, no Centro Comercial Dolce Vita, de 15 a 21 de Junho, apresentando um conjunto de 32 obras. Um júri, formado por 5 intervenientes de diferentes áreas artísticas, atribuiu 9 prémios e 3 menções honrosas aos vencedores. Os objectos artísticos expostos tiveram como mote a peça musical - “Mercúrio”, de “Os Plane tas”, de Gustav Holst - criteriosamente seleccionada sob o aconselhamento do Serviço Educativo da Orquestra Clássica da Madeira. Esta peça, inspiradora da criação individual, foi igualmente mote para o Grupo de Dança “Solta-te” (CAO Funchal - Santo António) que actuou na abertura desta Exposição e dos Jogos Especiais. Não obstante, apesar do resultado final ter sido bastante positivo, ficou um pouco aquém das expectativas iniciais, dada a baixa adesão de participantes. Esta cumplicidade de expressões, visível na pintura, escultura e dança, deixou aos promotores o desejo de continuar, redimensionando a logística e accionando mecanismos para tornar mais participada esta iniciativa. Deixamos um agradecimento especial aos patrocinadores e colaboradores, sem os quais não teria sido possível concretizar este projecto. E como refere Robert Gloton e Claude Clero “A imaginação conquista o poder”. Festa do Desporto, Igualdade e Inclusão! Jorge Fernandes - Núcleo de Actividade Motora Adaptada Revista Diversidades Dezassete anos volvidos após a sua primeira edição, os XVII Jogos Especiais, da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação, que decorreram entre 1 e 5 de Junho, pretenderam continuar a reafirmar a imperiosa necessidade de sensibilizar a sociedade para a inclusão de crianças, jovens e adultos com necessidades especiais. Este propósito foi aviva do pelo Secretário Regional de Educação e Cultura ao realçar o facto do desporto ser, talvez, a única linguagem universal e que adquire uma dimensão de movi mento, aprendizagem e diversão. Aliando as componentes recreativa e competitiva esta semana, de imensa actividade, movimento e emoções, iniciou-se com uma novidade - as actividades multidesportivas - resultado de uma parceria com o Gabinete Coordenador do Desporto Escolar – nas quais o rappel, a escalada e as cordas paralelas fizeram a delícia de todos. As actividades radicais e os circuitos aquáticos foram, sem dúvida, as que mais atraíram a atenção dos participantes, nomeadamente, os circuitos aquáticos que permitiram um contacto mais directo com o mar através dos passeios de barco e de bote. Com as bancadas cheias e a vibrar ao som das palmas, o pavilhão do CAB recebeu, no último dia, os atletas e todos aqueles que se quiseram unir a este evento de inclusão e que nunca se cansaram de festejar, assistindo à entrega de prémios aos finalistas e ao desfile das instituições participantes. Este foi o ano com maior número de participações, uma vitória para todos quantos estiveram envolvidos nos processos de desenvolvimento das capacidades dos alunos que durante esta semana se transformaram em grandes atletas. Na descoberta de talentos bateu-se um novo recorde nacional absoluto no salto em comprimento (5,43 metros). O desporto para TODOS: reafirma a descoberta do outro; facilita o relacionamento interpessoal; recria o conhecimento de si próprio e do mundo; expande a aceitação e a segurança; esbate certezas e determinismos; promove a qualidade de vida; minimiza as barreiras da discriminação e da exclusão; incentiva a participação e o companheirismo alimenta a solidariedade; abre caminhos de sucesso pessoal; encoraja o desenvolvimento de capacidades; garante o envolvimento activo; espelha valores de justiça, respeito e admiração; proporciona experiências gratificantes de auto-valorização. Maria José Camacho Eu Crio o Meu Mundo Revista Diversidades Não existe no mundo um caminho melhor, a não ser aquele que cada um de nós constrói. A evolução exige que nos adaptemos a novas realidades, pelo que teremos que ser nós, com um toque de criatividade, a adaptar o nosso Mundo. Neste sentido, sob o título “Eu crio o Meu Mundo”, o espectáculo Musical e Dramático que criámos, reforça esse lugar em todos nós: a criatividade. Fazendo uso da cor, visto que se poderá, através da mesma, representar sentimentos, atitudes e objectos, tentámos aproximar a sua simbologia aos diversos momentos que delineiam o caminho humano: a cor verde representa o nascimento de uma nova vida, uma nova esperança; a cor azul, lembra a lealdade, o ideal e o sonho; o vermelho, caracteriza a cor da paixão e da contradição; o branco, aliado à paz, evoca a calma e a pureza. Este foi o desafio que os professores Hector Teixeira e Bruno Monterroso, mentores deste espectáculo, integrado nos XVII Jogos Especiais, lançaram ao público que encheu por completo o auditório da RDP Madeira, no passado dia 9 de Junho. Pela harmonia e grandiosidade do trabalho apresentado, pelas reacções e comentários, pelos retumbantes aplausos e olhares emocionados, podemos afirmar que o objectivo foi conquistado: fomos conduzidos à descoberta do Mundo e da Vida, na evocação de cores, sonhos, forças e singularidades.